Iron Maiden no Rock in Rio 2013!

Hora de relembrar a clássica turnê do álbum Seventh Son of A Seventh Son....

Biografia: Bruce Dickinson

Conheça o passado do vocalista do Iron Maiden...

As formações do Iron Maiden...

Conheça todas as formações que a banda já teve ao longo dos anos.

domingo, 6 de outubro de 2013

Iron Maiden na Austrália em 2014?



Países como Austrália e Japão, territórios tradicionais nas turnês do Iron Maiden, não receberam shows em 2012/2013 e agora aparecem no centro das especulações para possíveis shows em 2014, no que seria uma continuação da Maiden England Tour!

NOVA TURNÊ EM 2014? ROD SMALLWOOD FALA SOBRE OS PLANOS DO IRON MAIDEN

O Soundwave, festival itinerante que acontece na Austrália entre 22 de fevereiro e 3 de março nas cidades de Brisbane, Sidney, Melbourne, Adelaide e Perth, já possui Green Day e Avenged Sevenfold como headliners confirmados, e segundo o site Tone Deaf, são fortes os rumores sobre uma possível confirmação do Iron Maiden como terceiro headliner do festival. Já que o promotor do evento AJ Maddah, por diversas vezes afirmou estar em negociação com a Donzela de Ferro através de seu perfil no Twitter.

Megadeth, Alice In Chains, Rob Zombie, Down, Trivium, Korn, Testament e diversas outras bandas também já estão confirmadas no festival. O anúncio do terceiro headliner deve acontecer em breve, ainda no mês de outubro.

Fonte: http://www.ironmaiden666.com.br

Fonte original: Tone Deaf

Vídeos oficiais do Rock in Rio

Em seu canal no Vimeo, o Iron Maiden liberou vídeos de "Run to the Hills", "Fear of the Dark" e "The Trooper". As filmagens possuem imagens exclusivas das câmeras da banda.

Veja abaixo:







 Fonte: whiplash.net

Amigos fazem show beneficente a Clive Burr



Amigos da falecido baterista do IRON MAIDEN, Clive Burr, estiveram no palco do evento que angariou fundos para caridade no Metalwave UK festival, que aconteceu neste último sábado, dia 05 de outubro no Circus Tavern, Purfleet, Essex no Reino Unido.

O baterista, que tocou no três primeiros álbuns do Iron Maiden, faleceu no início deste ano após uma longa batalha contra uma esclerose múltipla. O evento é encabeçado pelo ex-guitarrista da banda, Dennis Stratton.

Os prêmios de um sorteio incluíram uma coleção com imagens dos discos do Iron Maiden (1980-1988) doados pela banda; memorabilia do SAMSON doada pelo Paul Samson Archive, desenhos e outros itens do roadie do Maiden, Dave Lights, e itens da própria coleção de Burr.

Fonte: http://whiplash.net/

Fonte original desta matéria:

http://www.antimusic.com/news/13/October/ts03Clive_Burr_Charity_Concert_Planned_By_Former_Iron_Maiden_Guitarist.shtml

domingo, 1 de setembro de 2013

Biografia: Bruce Dickinson

Paul Bruce Dickinson nasceu no dia 7 de agosto de 1958, em Worksop, uma pequena cidade mineira do condado de Nottinghamshire. Apesar de seu primeiro nome ser Paul, ele sempre preferiu ser chamado de Bruce, mesmo quando criança. Os pais de Bruce ainda eram adolescentes quando se casaram. Foi um daqueles famosos casamentos apressados devido à gravidez da moça, um pequeno escândalo ainda mais se considerarmos que estávamos na conservadora sociedade britânica dos anos 50. O casal mal tinha saído da escola e, obviamente, não tinham dinheiro. Por isso foram viver com os avós de Bruce , que acabaram assumindo muito da criação do menino.

“Eu fui meio que um acidente de percurso.” diz Bruce sobre sua vinda ao mundo “Minha mãe tinha 16 ou 17 anos quando engravidou, e meu pai tinha 17 ou 18. Eles então se casaram e eu nasci uns 4 ou 5 meses depois. Minha mãe trabalhava numa loja de sapatos, meio período, enquanto que meu pai estava no exército. Ele era mecânico especializado em motores, mas perdeu sua licença de dirigir porque aprontou demais. Então ele pensou: ‘Foda-se’ e entrou como voluntário no exército. Porque lá eles pagavam mais e com isso ele conseguiu sua licença de volta na hora. Minhas lembranças são de ter sido basicamente criado pelos meus avós, porque meus pais eram muito novos. Meu avô era um trabalhador das minas. Minha avó era uma dona de casa que de vez em quando fazia uns trabalhos como cabeleireira no quarto da frente. Minha primeira escola foi a Manton Primary, que era conhecida como um lugar duro naquela região. Todos os garotos da área estudavam lá. Mas nunca me pareceu dura, eu achava muito divertida, realmente. Eu me lembro de minha infância na época como sendo extremamente feliz.”

Mas na época em que Bruce estava pronto para ir para o primeiro grau seus pais tinham se mudado de Worksop, deixando-o com seus avós enquanto se dirigiam para Sheffield – a cidade grande mais próxima, altamente industrializada, onde trabalho naquela época era mais fácil de se achar.

Bruce Dickinson: “Meus pais se mudaram, porque os empregos estavam na ‘fumaça’, como Sheffield era chamada. Eu realmente nunca senti como se tivesse um pai e uma mãe. Meu avô era o que chegava o mais perto de ser um pai. Ele era ótimo. Meu avô estava provavelmente nos seus 45 anos naquela época, o que é realmente uma boa idade para se ser pai. Eu me lembro dele me ensinando boxe. Ele me ensinou como lutar antes de eu entrar para a escola. Ele me disse: ‘Se alguém disser alguma coisa na escola, bate nele! Fique firme e não deixe ninguém te dominar.’ E eu fui mandado de volta para casa no dia seguinte, porque eu tinha entrado na escola e batido em todo mundo! Então ele me deu uma dura me ensinando quando eu deveria bater e quando eu não deveria bater em alguém. De certa forma eu acho que eu fui o filho que ele nunca teve. Mas para a minha avó eu sempre seria o bastardinho que levou sua filha a ficar longe dela. Ela dizia que quando olhava para mim ela sempre via o meu pai. E eu realmente me parecia com o meu pai eu acho, pelo menos o rosto um pouco.”

Uma criança que conseguia ser feliz, senão um tanto solitária, que quando estava zangada se arrastava atrás do sofá e não saía de lá – “Eu não queria que ninguém me visse”. A primeira experiência musical de Bruce foi dançando “The Twist” de Chubby Checker na sala de estar dos seus avós. “Meus avós costumavam por o disco e eu dançava o Twist para todo mundo. E, claro, naquela idade você pensa que isso é o máximo.” O primeiro disco que ele se lembra de ter ganhado foi “She Loves You” dos Beatles.

“Nós tínhamos um toca discos e um rádio e eu dei um jeito de convencer meu avô a comprar para mim “She Loves You”, que foi o número um durante semanas e semanas e era do tipo de disco que você tinha que ter, sabe?” recorda Bruce “E talvez por causa disso, eu não sei, mas eu me lembro que pensei que o lado b do disco era melhor do que o lado a, e foi aí que eu comecei a ouvir música e decidir o que eu gostava e o que eu não gostava. Eu me lembro de ter gostado das harmonias do lado b de um compacto do Gerry And The Pacemakers, chamado “I’ll Never Get Over You”. Então eu fiquei sabendo de um garoto na rua que tinha uma guitarra elétrica e todo mundo falava nisso no maior burburinho. Eu devia ter uns cinco anos de idade e eu me lembro de ter visto este garoto com a guitarra elétrica, e isso foi como, bimba! Ele era um adolescente, devia ter uns 16 anos e ele parecia como um deus para mim. Ele tinha um cabelo longo – bem, longo para a época, devia ser um pouco abaixo das orelhas – e ele tinha sapatos pontudos e todas aquelas coisas. Eu quero dizer, parecia que ele tinha saído direto da televisão.”

Televisão naquela época foi crucial para que Bruce aprimorasse seu gosto musical. Embora seu tempo de assistir a programas fosse racionado, ele não perdia seus programas favoritos: Jukebox Jury – um programa de auditório em que alguns convidados especiais votavam sobre os mais recentes lançamentos musicais decidindo se o consideravam um sucesso (hit) ou fracasso (miss) – e Doctor Who, um dos primeiros seriados de ficção científica.

“Eu sempre assistia a Jukebox Jury porque era antes de Doctor Who, aos sábados à noite. Então os dois programas acabaram inseparáveis em minha mente. A excitação de ver os Beatles ou quem quer que fosse no Jukebox Jury era parecida com a excitação que sentia de ver os Cyberman de Doctor Who. Eles eram ambos de mundos diferentes para mim. Eu não estava particularmente interessado em ficção científica, mais fatos científicos, realmente. Eu era incrivelmente obcecado pela lua e o espaço, ao ponto de eu pegar grande painéis de papel de parede e desenhar planos para minha própria espaçonave, todo o equipamento de navegação e o resto. Planos realmente detalhados, sabe? A mesma coisa com um submarino, que eu desenhei quando eu tinha nove anos. Ia ser construído a partir de latas de lixo soldadas umas nas outras, com cerca de um metro de comprimento. Eu adorava a idéia de viver debaixo da água, como o capitão Nemo – ou flutuando no espaço, ou qualquer outro lugar exceto a realidade. Eu estava muito interessado na chegada à lua; a primeira chegada não tripulada à lua foi no começo dos anos 60. Eu me lembro de tentar dizer à minha avó o quanto importante isso era, porque ela ia usar o jornal para acender o fogo com ele. Eu disse: ‘Você não pode jogar isso fora!’ Eu não sei o que eu esperava que ela fizesse com aquilo, eu apenas achava que era muito importante para ser jogado no fogo. Mas assim eram os anos 60, crescendo naquele tempo eu sentia que não havia limite para o que você podia fazer.”

Exceto talvez em Sheffield, para onde Bruce foi despachado aos 6 anos, assim que seus pais conseguiram arranjar uma casa e empregos estáveis naquela cidade. 

“Eles nunca ouviam música.” relembra Bruce “Meus pais estavam totalmente focados em conseguir dinheiro. Era esquisito, eles eram muito rígidos. Então mais tarde eu descobri que tinham viajado pelo mundo ou coisa parecida. Eles trabalhavam em parceria com um show de cachorros, com, tipo, poodles pulando através de aros. Minha mãe costumava dançar muito, ballet, e ela era muito boa, tinha uma grande presença e tudo mais. Ela tinha ganhado uma bolsa para estudar no Royal College Of Ballet e minha avó não a deixou ir. Então ela ficou grávida e foi o inferno. Aí a dança virou sua maneira de sair desse inferno. Sair de Worksop, da loja de sapatos e tudo mais... então tinha toda essa outra vida que eu não conhecia nada quando era garoto.”

Talvez o único estímulo da família viesse de um velho violão que seu pai tinha, mas que nunca tocou. “Era muito, muito ruim, mas eu estava fascinado com ele. Era uma coisa velha, horrível, impossível de se tocar. Eu não acho que ninguém conseguia tirar nada daquilo. Então eu costumava pegá-lo e ficar tirando uns barulhos dele, fazendo sons terríveis e ficando com calos nos dedos.”

Quando chegou a Sheffield Bruce foi mandado para uma escola primária local, notória por ser um local duro. “Era a Manor Top e, tanto quanto eu saiba, continua lá. Eu não sei como ela é agora, mas quando eu fui para lá ela era como um campo de concentração” Ele relembra com um sorriso torto. Como o garoto novo do pedaço, Bruce foi tão surrado e incomodado que seus pais tiveram que tirá-lo de lá e o matricularam numa pequena escola particular, a Sharrow Vale Junior. “Eu estive na Manor Top durante uns seis meses, talvez. E então nos mudamos – nós estávamos constantemente nos mudando de casa para fazer dinheiro. Meus pais costumavam comprar uma casa, arrumavam-na, aí a vendiam, para depois comprarem outra e começavam tudo de novo. Por boa parte de minha vida eu estava morando numa construção. Mas meus pais tinham chegado a um ponto onde eles estavam começando a fazer algum dinheiro. Compraram uma pensão. Eu acho que meu pai comprou uma garagem falida e começou a dirigi-la também. Ele estava sempre vendendo carros de segunda mão perto da entrada do hotel...

Como resultado dos incansáveis esforços de seus pais, na sua adolescência Bruce foi despachado para um colégio interno de segundo grau também pago, chamado Oundale, em Shropshire. “Eu não me importei em ir para lá.” comentou Bruce “Eu não me sentia particularmente feliz em estar com meus pais, por isso eu vi essa ida como uma escapatória. Eles me perguntaram se eu realmente queria ir , eu tinha uns doze anos e respondi que sim. Eu acho que era porque eu não tinha criado nenhum vínculo real com eles quando eu era muito, muito novo e também pelo fato deles terem muita dificuldade de se relacionar comigo de uma maneira profunda como pessoa.” Bruce se ressentia disso, mas hoje em dia olha para o outro lado da coisa: “Havia outras ocasiões que eu ficava surpreso de como eles podiam ser compreensivos com as coisas. Eu um dia roubei um carro de brinquedo de uma loja e fui apanhado. Passei um aperto com a polícia e tudo mais. E, claro, você tem 11 anos e eles tentam te fazer cagar de medo para que não faça isso de novo. E isso funcionou: eu me caguei de medo e desde então não furtei mais nada. Mas eu me lembro que meu pai teve que vir até a delegacia para me soltar e eu fiquei surpreso que não tenha me colocado no colo e me dado uma surra. Por outro lado ele nunca conversou comigo para saber porque eu tinha feito aquilo. Expressar seus sentimentos mais íntimos não estava no programa de minha família. Meu avô, que estava muito doente, mais tarde engoliu um monte de pílulas e tentou se matar. Mas ninguém falou sobre isso depois, e ele estava vivendo conosco naquela época – meus avós tinham se mudado conosco para o hotel então.”

“Mas de certa forma eu estou bastante agradecido pelo fato de não ter tido o que é convencionalmente conhecido por uma infância feliz e descomplicada. Isso me fez uma pessoa muito auto-suficiente. Eu cresci num ambiente que me mostrou que o mundo nunca iria me fazer nenhum favor. Que se você ficar parado e esperar por algo você vai acabar sendo pisoteado. Isso foi introjetado em mim por causa do jeito que meus pais eram. Eles eram muito auto-suficientes e trabalhavam duro. Eles nunca paravam. E eu tinha muito poucos amigos íntimos, muito poucos, porque, você sabe, eu nunca ficava encontrando com ninguém por muito tempo. Eu estava sempre me mudando. Eu não acho que meu pai tivesse muito mais amigos tampouco. A única que tinha muitos amigos era minha irmã Helen, que nasceu não muito depois que eu me mudei para Sheffield. Ela o completo oposto de mim – totalmente sociável. Ela saía por aí e tinha centenas de amigos!”

Mas a educação em escolas privadas de Bruce chegaria a um fim brusco quando, aos 17 anos, foi expulso pelo crime meio surreal de ter urinado no jantar do diretor. Para entender bem esta estória é preciso ter em mente que o internato britânico é um dos mais conservadores de todo mundo ocidental. Poucas coisas mudaram desde o século passado neles e alguns métodos mais parecem medievais. Isso sem falar no inferno que veteranos fazem os calouros passar dentro destas instituições. Assim sendo Bruce sentiu na pele o que era ser atormentado quase que diariamente com todo o tipo de brincadeiras de mau gosto e surras dos mais velhos. Não eram brigas de socos como as que tinha tido de enfrentar em lugares como Manor Top. “Eram mais como uma tortura sistemática.” explica ele “Você não podia escapar, esta era a coisa. Em Manor Top pelo menos você podia voltar para casa no fim do dia.” Seu maior tormento era o ‘capitão do dormitório’ (uma espécie de chefe de turma), um rapaz de 18 anos, com cerca de 1,90 m de altura ( e “com a idade mental de 12 anos” ). Bruce conta que a brincadeira favorita de seu chefe de dormitório era “de chegar às 10 da noite, pegar um travesseiro, transformá-lo numa arma, juntar todo mundo em torno da minha cama e me dar uma lição de auto defesa me surrando até não poder mais.” E seria assim por todo o seu primeiro ano... 

“Essas coisas aconteciam literalmente a cada noite. E você ia para a cama algumas noites e eles tinham colocado seis ovos quebrados dentro dela e tudo estaria ensopado, todas as roupas estavam molhadas, tudo arruinado e impossível de dormir neles... Eu sei que eu poderia ter chamado meus pais, mas isso teria sido me acovardar, então eu não o fiz. Eles ficaram sabendo cerca de um ano e meio depois. Gozado, eu achava que falar para os meus pais ou professores seria uma forma de deixá-los ganhar. Eu estava determinado a não deixar isso acontecer. Você não pode deixar as pessoas arrancarem o melhor de você, essa era minha atitude. Mesmo quando está ali estendido no chão todo espancado, você ainda assim pode dizer: ‘Tudo bem, você é maior do que eu, pode me bater à vontade, mas você não é superior.’ Assim sou eu, cara. E foi o que aconteceu comigo. Eu costumava chorar até não poder mais escondido, mas nunca, nunca, nunca mostraria esse tipo de... de fraqueza... em público, porque assim eles teriam vencido.”

Bruce cresceu como sendo filho único, constantemente mudando de casas, escolas e até de pais. Ele se sentia distante até mesmo de sua irmã – coisa que confessa sentir um pouco até hoje – porque “Ela foi uma criança planejada, você sabe. Então eu comecei a sacar que eu era esse... deslocado (obs. em inglês: outsider. Que quer dizer uma pessoa que não está dentro de um determinado sistema). E eu só aceitei isso. Mas foi quando eu comecei a, vamos dizer, fazer coisas diferentes. Eu em lembro que eles tinham um curso na escola de cadete para o exército que todo mundo odiava, então eu resolvi ficar com a liderança daquilo. E eu podia cuidar de toda a munição de verdade, e armas, e todas esses revólveres e coisas assim.” Com acesso a esse tipo de coisa e ajudado por outro deslocado que passava pelos mesmos apuros, nosso herói, aos 16 anos, cuidou de se vingar de seus algozes preparando pequenas bombas de pólvora e fazendo armadilhas com elas. “Oh, Deus, nós manipulávamos um material que era tão perigoso! Preparando pequenas armadilhas para as pessoas. Não para machucar, mas para assustá-las.” ele relembra.

Foi nessa época, muito longe de se imaginar um cantor, que Bruce teve seu primeiro passo para o lugar que se sentiria à vontade. Foi entrando para aulas de teatro na escola. “A primeira vez que subi no palco, eu adorei. Eu me senti confortável na hora, então eu comecei a ser voluntário para qualquer peça que estivesse sendo montada. Eu fiz uma porção. Eu até mesmo acabei dirigindo algumas delas. Eu amava isso. Não tanto a roupagem, mas a linguagem, e tentar entrar na cabeça do que estava acontecendo na peça. Nós encenamos Shakespeare – o departamento de teatro era muito ambicioso, e eu me lembro de tomar parte dessas produções bastante elaboradas de Mcbeth e Henrique VI. Eu costumava dar muito duro para tentar e entender o que estava sendo dito no papel e dar algo a ele, entende?” 

Mas a música não estava muito longe de deixar sua marca no adolescente Bruce. O hábito de ouvir rádios de pilha debaixo dos travesseiros durante a noite, após o horário de apagar as luzes, era muito comum numa escola interna que restringia terrivelmente os alunos no tocante às horas de folga. 

“Nós só tínhamos permissão de ver televisão uma hora por semana, conseqüentemente o único outro tipo de diversão externa que tínhamos era música. E os caras estavam sempre trocando discos ou vendendo-os de segunda mão. Você caminhava pelos corredores e vinha música de quase todas as salas. E eu ouvi um dia essa coisa soando no quarto de alguém um dia, eu fui lá dentro e perguntei: ‘Oooba! O que é isso?’ e eles olharam para mim com desdém e disseram: ‘É Child In Time do Deep Purple. Você não sabe de nada?’ Mas eu estava muito fascinado para me importar. Eu fiquei tipo ‘Yeah, mas onde eu posso conseguir esse disco?’ O primeiro disco que eu comprei na minha vida foi o In Rock do Deep Purple, arranhado até não poder mais, mas eu pensei que era o máximo. E foi isso que começou a me fazer começar a comprar álbuns e ficar por dentro de rock. Isso e os concertos. Uma banda sempre ia tocar na escola. A cada quatro meses então nós tínhamos um concerto de rock. A primeira apresentação que fui na vida foi a de uma banda chamada Wild Turkey. E eu me lembro que li uma entrevista com eles pouco depois na Melody Maker ou coisa assim, e eles foram perguntados sobre qual teria sido a tour deles, e um deles respondeu: ‘É engraçado, mas o melhor show de toda a turnê foi um que demos nesse colégio interno.’ Eu me lembro que fiquei completamente maluco, minha camisa até saiu!”

Houve outros concertos que marcariam a vida do jovem estudante, como o que o Van Der Graaf Generator tocou por lá (uma inovadora banda progressiva) e Arthur Brown (“Seu disco Kingdom Come tinha acabado de sair e era fantástico – o melhor cantor que já tinha visto” ). “A música que se apresentava por ali era sempre meio progressiva, muito ligada a discos conceituais. Era esta a minha dieta de música ao vivo. Mas quanto aos discos, eu sempre ouvia o primeiro disco do Black Sabbath, In Rock do Deep Purple, Aqualung do Jethro Tull, Tarkus do Emerson , Lake & Palmer – tudo que encontrava. Eu quero dizer, eu devia ser o sonho de qualquer publicista, porque toda banda que eu via ao vivo eu comprava o disco. Depois eu ia atrás e comprava os discos daquelas bandas que os teriam influenciado na carreira, você sabe. Mas a minha banda favorita era o Deep Purple. Eu apenas achava que o disco ‘In Rock’ era a melhor coisa de todos os tempos!”

Mas ser um cantor era uma coisa que ainda não tinha passado pela cabeça de Bruce. Originalmente ele se via como um candidato a baterista.

“Ian Paice do Deep Purple era meu maior herói, eu só queria ser Ian Paice” ele confessa “Mais especificamente eu queria ser o pé esquerdo do Ian Paice! Mas eu não tinha dinheiro para comprar uma bateria. Tinha dois garotos ricos que arranjaram um kit de bateria na escola e tipo que arranjaram uma banda. Eu me lembro de ficar flertando pelos fundos vendo-os ensaiar e pensava: ‘Eu tenho certeza de que posso tocar melhor do que eles.’ De vez me quando eles me deixavam dar umas tocadas na bateria e eu não conseguia fazer nada direito. Mas eu sabia que podia fazer melhor do que eles, eu sentia isso no meu íntimo. Eu costumava fazer um kit de bateria usando livros e outras coisas na minha mesa. Eu não tinha baquetas por isso eu usava dois pedaços de madeira e ficava batendo na minha cama às 7 da manhã.”

Eventualmente Bruce conseguiu dar um jeito de participar dos ensaios quando pegou ‘emprestado permanentemente’ um par de bongôs da sala de música da escola. “Eu comecei a zoar com eles num canto sem perguntar se podia. Eu fiz amizade com o cantor deles que era esse cara chamado Mike Jordan. Nós costumávamos fazer jogos de guerra juntos. Ele tinha ganho todos esses prêmios de canto – ele era um baixo – como um cantor de música clássica. Então ele era o cantor nesse grupo e era uma coisa horrível, nada a ver com rock’n roll. Eu me lembro de tentar aprender ‘Let It Be’ dos Beatles: ela tinha só dois ou três acordes e estávamos todos tentando tirá-la. Eu estava lá no canto tentando soar como John Bonham (Led Zeppelin) num par de bongôs, e soava terrível, minhas mãos estavam vermelhas e estava dando uma dor de cabeça em todo mundo. Parecia um cavalo andando sobre caixas. Mas o pobre Mike não conseguia atingir as notas mais altas de jeito nenhum, e eu tentei encorajá-lo a seguir em frente cantando junto com ele – só que eu conseguia atingir as notas agudas. Eu sempre pensei que provavelmente eu poderia cantar, de fato eu sabia que podia cantar porque todo mundo já tinha me ouvido gritando em ‘Jerusalem’ no coro da escola e em diziam ‘Você tem realmente uma boa voz’. E eu respondia: ‘Besteira!’ Você sabe, mas isso me fazia pensar. 

“Então eu disse: ‘Me dêem uma oportunidade como cantor e eu não toco mais os bongôs e dou uma mão pra vocês com as notas altas de ‘Let It Be’. E foi o que fizemos e todo mundo disse : ‘Legal! De onde esta voz apareceu?’ Infelizmente a banda acabou uns cinco minutos depois. Mas havia aquele outro garoto, que também era muito nervosinho, que estava numas de curtir B.B. King e gostar de Blues. Ele estava aprendendo tudo num violão e eu costumava sair com ele – Nick Bertram era o seu nome – e ele tirava aquele songbook do B.B. King e tocávamos todos aqueles clássicos do blues e coisas assim. Ele tocava e eu cantava. E foi quando eu fui expulso por urinar no jantar do diretor...”

Na realidade foi uma brincadeira mais inocente do que parecia: o jantar estava sendo preparado para uma festa. Mas descobriram que estavam sem óleo de cozinha e pediram o óleo dos estudantes do quarto de Bruce. Bruce e outro garoto resolveram fazer uma “pequena” brincadeira e ‘batizaram’ o óleo com uma pequena quantidade de urina. Ele e o outro responsável tomaram algumas cervejas e caíram na gargalhada. Tiveram o azar de contar a brincadeira para outro colega e no dia seguinte toda a escola estava sabendo.

“A pior coisa de ser expulso foi esperar pelo meu pai vir com o carro me pegar. Mas meus pais não me falaram nada sobre o assunto, do mesmo jeito que fizeram quando eu furtei o carrinho de brinquedo. Eles me pegaram, não falaram nada sobre isso, nunca mencionaram a respeito. Eu tinha pensado ‘Inferno, sabe, eles não vão dizer nada?’ Mas eu saí da escola e os seis meses seguintes foram muito, muito proveitosos.”

Voltando para casa em Sheffield, ele foi estudar numa escola bem mais liberal e de vanguarda (para a época). “Eu adorei! Ela era brilhante! Todo mundo era, tipo, normal, e havia garotas lá – o que me deixou maluco na hora. Fiquei numas de ‘Que coisa, eu espero que elas conversem comigo!’ Então, na minha primeira ou segunda semana lá, eu ouvi aqueles dois garotos conversando e diziam; ‘O que vamos fazer sobre o ensaio de hoje á noite então? O cantor pulou fora, o que vamos fazer?’ E eu fiquei pensando ‘Cristo! Devo dizer que eu sou um cantor?’ Então eu me virei e disse: ‘Eu posso cantar para vocês, se quiserem.’ E eles responderam: ‘Oh, grande, esperamos você lá então.’ Então eu fui lá e descobri que o baterista deles era um garoto que conhecia de minha velha escola. O ensaio foi na garagem do seu pai – bateria, baixo, duas guitarras – muito estilo Wishbone Ash, porque eles tinham aprendido todo o disco Argus (o mais famoso LP do grupo, muito popular no início dos anos 70) nota por nota. Assim que eu fui aprendendo as canções eles ficavam numas de me dizer “Fucking hell, você realmente sabe cantar! Uau, nós temos um cantor!’ Então eu comecei a pensar: ‘Eu tenho que comprar um microfone...’

Mas Bruce não se sentia nada confortável nessa posição. “Eu me sentia como uma velho tarado indo comprar uma revista pornô, porque isso era muito esquisito. Se alguém me perguntava ‘Você é um cantor então?’ eu respondia ‘Não, não, eu não sou não, definitivamente não!’ E saía correndo da loja. Eu estava com muito medo de parecer um idiota, eu não queria fazer aquilo a não ser que conseguisse atingir cada nota como Ian Gillan. Eu não queria me ver como um cantor se não conseguisse atingir este ponto e eu não sabia se conseguiria.’

“O primeiro lugar que nós fizemos uma apresentação foi numa taverna chamada Broad Fall, em Sheffield, onde se fazem este tipo de shows. A banda se chamava Paradox e eu disse: ‘Este é um nome idiota. Por que não um nome grande e místico como Styx?’ E eles responderam: ‘Este é um bom nome.’ Então nos chamávamos de Styx. Nós não sabíamos que já havia esta grande banda americana com este nome. Nós éramos uns sonhadores ignorantes. Mas a banda acabou pouco depois disso e ficou por aí – exceto eu agora tinha um microfone e um amplificador. Eu pensei: ‘Bem, eu sempre posso usá-los de novo em algum outro lugar.’

Bruce deixou a escola com três notas máximas – Inglês, História e Economia – e no princípio considerou seguir os passos de seu pai indo para o exército. Ele já tinha se alistado no Exército Territorial (uma espécie de curso para entrar em armas) e seu pai aprovava a idéia de seu filho ter uma carreira desse tipo.

Bruce: ‘Eu não sabia o que ia fazer. Mas eu fui para casa e pensei: ‘Foda-se, eu vou fazer o TA por seis meses.’ Eu até que gostei, mas eu logo percebi que minha fantasia de que ia ser como um Rambo indo atirar para todo lado era uma merda. Havia tantos idiotas, senão mais, no exército quanto em qualquer lugar. Não necessariamente os caras com quem eu estava, porque eles eram um bando de colegas legais. Nós íamos até a mata, fazíamos um monte de buracos, enchíamos a cara e voltávamos e ficávamos bêbados como gambás. Eu nunca tive visto homens ficarem tão bêbados e fazerem coisas tão deploráveis, e eu certamente nunca tinha visto tantas ‘mulheres fáceis’. Eu quero dizer, eu não fazia nada com elas, eu não tinha a menor idéia do que fazer. Eu me lembro desta mulher tentando me levar para cima e tudo que eu fiz naquela noite foi jogar dardos. Eu não tinha a menor idéia de como lidar com aquilo. Mas, no fim das contas, eu concluí que isso não era uma escolha de carreira, era um pouco de fantasia, realmente. Foi uma boa maneira de dar uma escapada por uns tempos, porque eu não sabia o que mais iria fazer. Tipo, ser um cantor de rock’n roll? Se isso não é uma fantasia, então o que é?”

Ao invés disso ele resolveu se inscrever para conseguir uma vaga na universidade para estudar História, mais exatamente no Queen Mary College, no East End de Londres.

“Foi a primeira vez que fui para Londres” conta Bruce “Meus pais me perguntaram: ‘O que você vai fazer quando for para lá?’ Eu lhes disse que ainda iria para o exército, mas que queria ter o meu diploma antes. Era o que eles queriam ouvir e isso foi a estória que contei para disfarçar. Assim que eu cheguei lá eu imediatamente comecei a procurar e ir tocar em bandas. Eu encontrei esse cara que se chamava Noddy White, que se parecia demais com o Noddy Holder do Slade. Ele era do Southend (região sul de Londres) e era um pouco guitarrista, um pouco baixista, um pouco tecladista, um pouco compositor, um pouco de tudo, sabe? E ele tinha um monte de equipamentos, caixas de som, tudo. E eu fiquei numas de ‘Foda-se, cara, vamos formar uma banda!’

A banda era chamada de Speed: “A banda não tinha nada a ver com tomar speed (gíria para anfetaminas), nós éramos uma banda completamente limpa, é que nós tocávamos tudo ridiculamente rápido!” E eles ensaiavam todas as vezes que Bruce conseguia convencer o dono do equipamento a montá-lo.

“Eu pedi ao Noddy para me dar algumas aulas de violão e comecei a escrever canções na hora. Ele me ensinava três acordes e eu escrevia a partir só destes três acordes. Naquela época o Punk estava estourando e no East End você estava bem no meio do movimento. Eu me envolvi com o Entertainment Comittee (uma espécie de grêmio estudantil) da faculdade e um dia você seria roadie para o The Jam, no outro estaria colocando o cenário de Stonehenge para um show do Hawkwind, ou qualquer coisa assim. Eu me lembro de ver Ian Dury and the Blockheads tocando lá. Os Sex Pistols fizeram um show meio secreto na escola. Aí a gente começou a fazer algumas apresentações. Nós costumávamos pegar o micro ônibus da escola, dizendo que estávamos pegando emprestado para um curso fora, tirávamos todos os assentos, amontoávamos todo o equipamento e íamos para o pub Green Man, em Plumstead. Nós arranjamos até que uma boa base de fãs no final, e eu tive minha primeira experiência do que era ir lá e cantar em frente a um público: era uma dessas bandas de escola que não duram muito, mas foi legal enquanto durou.”

Mas não foi bom o bastante. Bruce queria expandir seu repertório e logo viu um anúncio na Melody Maker que chamou sua atenção imediatamente: - “Procura-se cantor para completar um projeto de gravação”. Bruce, que nunca havia estado num estúdio antes, respondeu ao anúncio. Eles pediram que ele mandasse uma fita com uma demonstração de sua voz. Bruce diz que “Uivei, gritei, lati e apenas fiz barulhos.” Na fita que mandou. E ainda mandou uma nota onde já deixaria a marca de seu humor: “Falando nisso, se vocês acharem que o cantor é uma merda, há algumas comédias de John Cleese (do Monty Python) no outro lado da fita que vocês podem achar engraçadas.” A fita foi retornada e o cara disse: ‘Nós achamos sua voz realmente interessante. Venha ao estúdio.’ 

“Assim eu fui lá e gravei esta canção chamada ‘Dracula’. A faixa era desta banda obscura chamada Shots, que era formada basicamente por este cara Phil Shots e seu irmão, Doug. Só Deus sabe o que aconteceu com esta gravação, mas Doug ficou louco, porque nós dobramos as vozes, fazendo uma coisa como uma harmonia de quatro partes. E ele ficou me perguntando ‘Você tem mesmo certeza que nunca fez isso na sua vida?’ Nós então começamos a conversar e ele me perguntou que tipo de música eu gostava e é claro eu mencionei Ian Gillan, Ian Anderson (Jethro Tull), Arthur Brown... e Doug fala: ‘É isso aí! O Arthur Brown, cara! Algumas vezes sua voz é igualzinha ao do Arthur! Nós temos que formar uma banda!’ E eu pensei: ‘Caralho, sabe, esse cara tem um estúdio e quer formar uma banda comigo.’ Eu respondi; ‘Yeah!’” 

Bruce começou a cantar com o Shots em “principalmente bares, mas ninguém estava interessado.” Até que numa noite, puto com aquilo, ele meio que brincando começou a xingar a platéia por não estar prestando a devida atenção. A resposta foi tão boa que ele começou a fazer isso toda noite até que virou parte do seu ato.

Bruce conta como começou: “Nós estávamos tocando em clubes para cinco pessoas e você está tentando fazer o seu trabalho e ninguém estava prestando atenção. Então entrei nessa de parar uma canção na metade e começar a provocar estes caras na platéia. Eu começava: ‘Ei, você! É, você! Você, seu gordão! Todo mundo olha para ele. Todo mundo está olhando para ele? Ok, qual é o seu nome? Você tem um nome?’ Apenas para provocar as pessoas e todo mundo de repente presta atenção, porque correm o risco de serem os próximos! Aí antes que o cara tenha chance de responder, nós começávamos a próxima música –só que agora todo mundo estava ouvindo. A primeira vez que fiz isso o dono do lugar veio e disse ‘Foi um grande show, caras! Vejo vocês na próxima semana!’ Então começamos a desenvolver isso nas apresentações. E foi a partir daí que passei a ser não apenas um cantor, mas um frontman também. Eu descobri que um monte de gente pode cantar mas peça a eles que subam no palco e segurem a platéia e eles não conseguirão. Eles não saberiam como. Então isso era um fato muito importante que descobri sobre este trabalho.” 

Mas a verdadeira chance de Bruce aconteceu na noite que membros do grupo Samson apareceu de surpresa num show que o Shots dava em Maidstone, em 1978. Liderado pelo guitarrista nascido em Sidcup, Paul Samson, eles já tinham lançado um LP, Survivors, através do selo independente Lazer, atraindo uma boa parcela de interesse na imprensa, fazendo-os que se destacassem junto com certas bandas como Iron Maiden, Saxon e Angel Witch num novo movimento que estava sendo chamado de NWOBHM. Mas seu maior destaque, curiosamente, era o fato de seu baterista Thunderstick (nome verdadeiro: Barry Purkins), usar uma máscara sadomasoquista no palco. (Ele era também um fã ardoroso do Kiss. Nos primeiros tempos do Maiden. Purkins chegou mesmo a tocar com grupo, mas fez só um show com a banda).

Bruce Dickinson: “Eles viram o nosso show e nós tivemos um bate-papo depois e me perguntaram: ‘Qual é a sua?’ eu disse: ‘Bem, eu gosto muito do Purple, Sabbath e Jethro Tull, mas eu gosto de fazer coisas com uma ponta de esquisitices.’ Porque naquelas alturas o Shots tinha virado quase que um ato de comédia Heavy Metal. A interpretação tinha ficado mais importante que a música. Mas o Thundestick estava numas de curtir o Heavy Metal Kidz (uma banda meio de paródia da época) e me disse: ‘Foi como ver um jovem Gary Holton (vocal do Kidz), gozando as pessoas e se divertindo, foi ótimo!’ E eu disse: ‘Tudo bem, eu posso fazê-lo, mas eu acho que havia mais coisa (no show) do que isso.’ Mas Paul Samson me deu seu número de telefone e disse: Ouça, nós temos um disco que saiu agora, temos um contrato de gravação mas precisamos de um novo cantor e queríamos que você entrasse para o grupo.’ Faltavam umas duas semanas para as minhas provas finais na faculdade e eu então disse: ‘Sim, eu adoraria estar na sua banda, mas podiam me dar duas semanas? Eu tenho algumas provas para fazer e aí eu sou todo seu.’”

Conseguir se formar não parecia ser uma coisa importante – até Bruce perceber que poderia nem sequer chegar a fazer os exames se não deixasse suas atividades extra-curriculares de lado pelo menos durante um tempo. 

“Eu fiquei enrolando na faculdade durante dois anos” admite ele “fazendo apenas o mínimo necessário, enchendo a cara, indo pra cama e geralmente me divertindo muito. E então eles quiseram me expulsar por não pagamento de aluguel, porque eu gastei todo o meu dinheiro para pagar a faculdade comprando equipamento para a banda. Eu costumava me esconder quando os inspetores de aluguel apareciam. E também havia tomado bomba nos meus exames do segundo ano. Então eles tinham um caso muito fácil, realmente. Mas eu era encarregado da seção de entretenimento da Students Union ( uma espécie de UNE de lá )e naqueles dias isso tinha um certo peso. Então eles deixaram passar, mas eu tive que fazer seis longos trabalhos no espaço de duas semanas, que as pessoas normalmente levam seis meses para fazer, consegui boas notas em todos eles e eles acabaram me deixaram ficar. E nos seis meses finais para a minha formatura eu pensei: ‘Foda-se, eu já fui muito longe, seria uma vergonha não ir à biblioteca, abrir um livro e descobrir o que afinal de contas do que é se trata o curso de História.’” 

Estudando como um doido nas últimas semanas antes dos exames finais, Bruce conseguiu tirar o suficiente para passar. “Era o que a maioria das pessoas consegue, de qualquer forma.” conclui ele bem humorado. Ir direto da sua última prova para seu primeiro ensaio com o Samson provou ser uma experiência diferente demais até mesmo para o infatigável Bruce. “De fato, os primeiros ensaios que tive com o Samson definiram claramente o padrão que teria todo o meu tempo com a banda.” Ele estava para entrar o que ele pode hoje falar bem humorado de “Meus dias de ‘vamos-experimentar-drogas’. Eu nunca tinha me envolvido com drogas. Eu apenas costumava beber muito naqueles tempos. Mas quando eu fui lá e o baixista estava cheirando carreiras de sulfato atrás dos amplificadores, Paul estava fumando quilos de maconha e o baterista tinha engolido um punhado de mandies ( um poderoso tranqüilizante que só podia ser vendido sob estrita prescrição médica, mas que se tornara popular entre músicos no final dos anos 70). E eu tinha estado no bar, é claro, logo depois de fazer minhas provas, então você pode imaginar a zona que nesse meu primeiro ensaio. Thunderstick caiu do seu banquinho porque ele estava completamente fora de si com os mandies. Mas por sorte tinha uma parede atrás dele e então a gente o encostou lá e ele conseguiu continuar tocando. Eu não tinha a menor idéia o que estava acontecendo, sério. Eu só fui em frente com aquilo tudo. Thunderstick era obviamente um grande fã do Kiss, eu podia perceber isso. E Paul estava numas de curtir Leslie West e Mountain e ZZ Top, e eu era maluco por Deep Purple, então éramos um grupo e tanto.”

Não sabendo exatamente seus limites ou objetivos, ele decidiu que o melhor caminho a seguir seria “me atirar de cabeça naquilo e fazer o melhor que podia. Quando em Roma, faça como os romanos, essas coisas. Eu terminei com a minha namorada que estava comigo há três anos na universidade. Eu disse a ela que iria me tornar um completo cretino. Eu pensava que era isso que eu tinha que fazer, francamente, e assim eu poderia me comunicar com os rapazes da banda. Porque não era nada do que eu esperava. Na minha inocência eu achava que pessoas que tocavam em bandas de rock’n roll eram grandes artistas, e foi um grande choque nas minhas convicções quando eu descobri que não eram, que não queriam nem se tornar isso, realmente. Alguns deles queriam, talvez. Mas outros – como o Samson – estavam com medo dessa idéia, alguns deles só queriam beber uns tragos, dar uma boa trepada e tomar umas drogas, e eu descobri que isso era muito, muito difícil de lidar. Eu pensei: ‘Eu tenho que descobrir se eu vou trabalhar com esses caras e nós vamos fazer música.’ E tão logo eu aceitei esta idéia eu pensei ‘Certo, eu devo então saber o que toda essa tomação de drogas e trepadas são afinal de contas.’

Mas Bruce nunca entrou nas mais pesadas. O máximo que chegava no material ilegal era maconha, seu maior vício pessoal.

“Eu já fumava um pouco naquele tempo” ele admite “Alguém já havia me ligado num pouco de droga na escola, e eu pensei ‘Oh, isso é meio esquisito’ Eu gostava daquilo, sabe? E no Samson isso era um tipo de hábito. Quer dizer, Paul costumava acender um baseado todo dia, o dia todo. E descobri que se você está limpo você não consegue realmente se comunicar com ninguém. Era impossível. Por isso eu pensei ‘Oh, eu devo então fumar um baseado ou não vou conseguir ser capaz de escrever nada’. E foi mais ou menos deste que jeito que a coisa foi. Eu mais ou menos me resignei a isso. Tipo, eu vou me tornar uma pessoa que eu basicamente não sou por dois ou três anos, sabe, porque eu queria ser um cantor, e pensava que isso era parte do preço que você tinha que pagar. Para ser honesto, cada pequena coisa que eu fazia era outro passo para atingir meu objetivo, que era ser um cantor numa banda de rock’n roll. Eu acho que você tem que ter esse nível de crença, ou pelo menos eu tenho.”

Bruce teve que engolir muitos sapos para poder ter a sua oportunidade de sucesso. Teve até que aceitar um nome boboca, ficando conhecido durante seus tempos no Samson como “Bruce Bruce”, algo tirado de uma cretina piada da trupe do Monty Python. “O pessoal da editora vivia me mandando cheques de brincadeira, só para me gozar.” Diz Bruce, que cansou de explicar a estória “e uma de suas piadinhas era de me mandar um cheque nominal para Bruce Bruce, como num daqueles sketchs do Monty Python. E ele pegou. Quer dizer, eu não fiquei muito contente com isso mas pensei ‘Oh, bem, ok, é um tipo de nome de guerra, não é?’ No Samson Bruce pode expandir bem sua capacidade como compositor, escrevendo com Paul a maioria do material gravado pelo conjunto. Ele deixaria dois álbuns: Head On, lançado em 1980, através do pequeno selo Gem, e Shock Tactics, lançado pela RCA, depois que o Gem faliu em 1981. Em nenhum dos dois discos o vocal de Bruce está na mesma categoria que mostraria nos seus trabalhos com o Iron Maiden. Mas não eram maus discos, principalmente para a época: um bom hard rock do início dos anos 80, fortemente influenciados pelas bandas dos anos 70. Tampouco atingiram grandes posições nas paradas. A falta de uma grande gravadora para promovê-los em escala maior parece ter sido o principal fato de não ficarem mais conhecidos na época. Aparentemente o Samson tinha o talento, mas não a sorte.

Bruce: “Eu acho que Head On poderia ter sido um bom disco. Eu só pediria a Deus para termos tido um produtor decente, porque tinha umas grandes canções nele. E francamente, é meio engraçado, eu falei isso com o Rod Smallwood um tempo depois e ele meio que admitiu que a única banda que ele achava que podia rivalizar com o Maiden era o Samson. Ele é bastante honesto para admitir que deliberadamente se encarregou de fazer o Maiden bater o Samson de qualquer jeito. Não especificamente por isso mas porque antes de eu me juntar à banda, o Samson tinha sabotado o Maiden numa passagem de som ou coisa parecida. E Rod nunca os perdoou por isso. Eu acredito nesta estória porque com certeza havia mesmo algumas batalhas de ego rolando naqueles tempos.”

O Samson havia sido jogado no lote da NWOBHM e não demorou muito para que eles estivessem dividindo os mesmos palcos com outros colegas da NWOBHM como o Praying Mantis, Angel Witch e, claro, o Iron Maiden.

“Havia aquela coisa chamada de ‘A Cruzada Pelo Heavy Metal’ , a qual o Iron Maiden era uma parte dela, e era basicamente uma espécie de um circo viajante de bandas que tocaram no Music Machine, em Camden, toda semana.” Explica Bruce “Os empresários do Samson sempre declararam que a idéia tinha sido deles, então o Samson sempre estava no programa da NWOBHM em algum lugar. O Saxon estava lá também, e o Angel Witch – todo mundo que fez parte daquela coletânea da EMI, a Metal For Muthas. Então, sabe, aquela coisa existia, para o bem ou para o mal, e foi realmente a minha primeira experiência dessa idéia de que havia um tipo de... movimento. Até então eu desconhecia isso. Mas a primeira vez que eu vi o Maiden, eu acho que foi no Music Machine, foi por volta de 1980. Nós éramos a banda principal da noite, mas aí eles vieram trazendo toda aquela tribo do Ruskin Arms e o lugar ficou lotado e as pessoas ficando loucas por eles. E eu me lembro de estar assistindo eles no fundo do palco, sentindo esta vibração em volta da banda, e pensei; ‘Isso é o Purple!’ Essa foi a primeira coisa que me veio à cabeça, que isso era puro Deep Purple. Tinha o Dave Murray, que era obviamente influenciado pelo Ritchie Blackmore, ele tinha a (guitarra) Strat, o cabelo muito longo... e o baterista soava como Ian Paice – Quer dizer, parecia um clone dele! Eu não percebi o baixista naquela primeira vez mas eu olhei para o cantor, Paul, e pensei: ‘Hummm, eu não entendo porque ele está lá...’

“Mas eu fiquei olhando, e eles eram bons, fodidos de bons. E naquele momento eu me lembro de ter pensado: ‘Eu quero cantar nessa banda. De fato, eu vou cantar nessa banda! Eu sei que vou cantar nessa banda.’ E não foi nem uma coisa de tentar forçar a entrar nela. Eu apenas pensei que era inevitável. Eu apenas pensava o que poderia fazer com a banda, porque eu sempre tinha sido um imenso fã do Purple, e eu vi o Iron Maiden como outro Deep Purple – não idêntico, musicalmente, mas talvez o mesmo arrepiar da espinha. Eu pensei: ‘Isso é que é realmente eu . Não o Samson.’ O Paul mesmo estava desprezando-os. Um pouco eu acho que era inveja, um pouco eu acho que era verdadeiro. Ele apenas não gostava do som deles, não conseguia se identificar com isso de jeito nenhum. Mas eu me lembro que tinha esta garota que era uma espécie de groupie - nós a chamávamos de Flannel Tits (seios de flanela) - e eu acho que ela estava flertando com os caras do Maiden também – e ela apareceu um dia com uma fita do Maiden de um show deles gravado direto na mesa de som. Ele pôs para tocar e eu falei: ‘Putamerda! Isso é louco!’ Eles faziam o Samson parecer uma piada em comparação. Nossa noção de dinâmica nunca foi muito boa, mas o Maiden tinha a deles muito, muito precisa.”

Bruce admite que era o que mais admirava na banda era o seu direcionamento, sua firme decisão e objetividade que o atraiu mais do que a música propriamente dita. Ele afirma que “não ouvia muitos seus discos, foi vendo-os e ouvindo-os ao vivo que me impressionou. Quer dizer, é claro que eu ouvia os discos, e algumas coisas lá eram muito legais. Como ‘Prodigal Son’ e ‘Remember Tomorrow’. Sobre o seu predecessor na banda, Bruce opina que “Ele soava muito bem nos discos. Mas quando chegava o pega para capar –quando a banda estava detonando no palco – ele tinha que ir ao máximo, dominar isso e eu achava que era aí que a coisa tipo que não acontecia.”

A vez seguinte que encontraria com a banda só ocorreria quase um ano depois e seria fruto de uma coincidência. O Samson estava gravando seu disco Shock Tactics no estúdio adjacente ao que o Maiden estava então produzindo Killers.

Bruce Dickinson: “Havia um bar no Morgan Studios onde nós todos podíamos nos encontrar. Martin Birch estava produzindo o disco deles e Martin era meu herói. Ele tinha produzido a maioria dos meus álbuns preferidos e só de botar os olhos nele e eu pensava: ‘Oh meus Deus!” E é claro que o Clive Burr estava por lá também, e era quem nós conhecíamos porque ele tinha tocado no Samson antes de eu entrar. E Clive costumava ir visitar nossas gravações e retribuímos indo lá vê-lo gravar também. De qualquer forma eu estava lá uma noite e eles tinham acabado de terminar esta mixagem, e Clive disse: ‘Vem aqui dentro e ouça’, aí ele ligou as caixas de som tão alto quanto podia e ficou em pé no fundo da sala bebendo uma cerveja. Eu me lembro de ter ouvido esta coisa – eu acho que era ‘Murders In The Rue Morgue’ – e ter ficado numas de ‘Uau, isso soa fantástico!’ E era. Eu tinha ouvido o primeiro LP do Maiden e achava que o som dele era uma merda (obs. ele, claro, se refere à produção do disco). E aí quando eu ouvi o Killers eu pensava que isso meio que faria eles serem realmente grandes. Claro que Killers foi o disco que eles receberam críticas muito duras por aqui, mas foi aquele que o resto do mundo parou e deve ter pensado ‘Espere um pouco, isso é bom...’”

Uma das ironias do destino é o fato de que o Samson deveria ter sido o grupo de suporte do Maiden na parte européia da tour de 1981. Seria a primeira tour mundial e aquela que levaria à demissão de Paul Di’Anno. 

Bruce: “Nos programas da tour de Killers, chegaram mesmo a imprimir um anúncio do Shock Tactics no verso. Mas nós fomos retirados na última hora porque nossa gravadora não queria pagar pelas despesas da tour ou qualquer coisa assim. Eu ainda não estou certo até hoje se esta foi a verdadeira razão, mas qualquer que ela fosse, fomos retirados no último minuto e então estava feito. Então o Samson, no tempo em que eu estava com eles, jamais chegou a tocar fora do Reino Unido.”

Foi o princípio do fim da relação Samson e Bruce Bruce. Sua gravadora, a Gem, quebrou. As gravações de Shock Tactics foram então repassadas para a RCA que, segundo Bruce “Não estava dando a mínima sobre esta banda desconhecida da Inglaterra. No que diz respeito a eles foi como se dissessem: ‘vamos só lançar e quem se importa?’ Desiludidos com o que parecia a maneira inepta com que dirigiam os negócios da banda, Samson despediu seus empresários, o que acabou por deixá-los numa situação ainda pior. ‘Nós fizemos isso tudo da maneira errada, provavelmente porque estávamos chapados o tempo todo naquela época.” Diz Bruce. Com isso foram processados pelos seus agora ex-empresários e foram perseguidos por ações na justiça que acabaram por fazer com que seu equipamento fosse gradualmente confiscado enquanto estavam em plena tour. Algumas vezes eles mesmo ficaram legalmente incapacitados até de receber pagamentos! “Foi o fim da linha, bastante literalmente, mas nos recusamos a aceitar isso.” Diz Bruce.

Mas nem tudo estava totalmente perdido. O grupo recebeu a oferta de se apresentar no Reading Festival daquele ano como uma das atrações principais. Era uma chance de ouro e Bruce diz que “Nós agarramos a oportunidade com as duas mãos e esperamos pelo melhor. Foi a segunda vez que fizemos o Reading, e tudo deu muito certo, conseguimos críticas positivas e tudo mais. Existe até um disco ao vivo ( o ‘Live At Reading 81) daquele show e acho que soamos muito bem. Mas já naquele ponto a energia estava muito esquisita na banda. Paul (Samson) estava realmente numas de dar o fora e mergulhar mais e mais no seu projeto solo, você sabe, essa coisa de ZZ Top, que foi o que ele fez logo depois de eu sair. Ele tinha um novo empresário então que estava tentando conseguir um novo contrato com a A&M – chegamos mesmo a tirar fotos promocionais para a A&M. Mas naquela altura eu já tinha me decidido a sair.”

Talvez o que tenha feito apressar sua decisão fosse a presença de um certo empresário de outra banda muito grande que estava no Reading Festival. Bruce resume o que ocorreu:

“Paul (Di’Anno) ainda estava na banda, mas acho que todos estavam cônscios de que havia um problema. E quando eu deixei o palco no festival naquele dia, todo mundo sabia que havia alguma coisa no ar. O mais engraçado é que havia aqueles rumores de que eu ia me juntar ao Rainbow. Eu recebi um telefonema esquisito no meio da noite de um roadie de Ritchie (Blackmore) ou alguém assim me perguntando: ‘Você está disponível?’ e eu respondi: ‘Claro que eu estou disponível, Ritchie é o meu guitarrista favorito!’ Mas não ouvi mais falar disto. A primeira coisa que eu ouvi do Maiden foi a de que Rod e Steve estavam rondando o backstage durante o Reading. Eu descobri que eles voaram do sul da França especialmente para ver o Samson. É claro que eu não sabia de nada do que estava ocorrendo nos bastidores, que o Rod ainda estava vacilando. Aparentemente o Steve dizia: ‘O cara tem uma grande voz’ ou algo assim e Rod respondia: ‘Eu não me importo com que tipo de voz ele tenha, ele está no Samson e eles nos foderam!’ Mas aí o Rod veio e teve uma conversa comigo.

“Agora, no Reading tinha aquele quadrangular de tendas vendendo cerveja e outras coisas, sabe, e bem no meio disso tem um grande poste com armações e holofotes em cima. Nós éramos as únicas duas pessoas em pé nesse quadrângulo , debaixo dos holofotes, com todo mundo que estava no Reading festival olhando para nós, e eu estava olhando para o Rod e ele: ‘Você quer mesmo fazer isso aqui?’ Mas Rod estava meio desligado, você sabe. Não foi bem uma proposta. Nada como ‘Queremos que você seja o cantor’, foi mais como ‘Nós queremos lhe oferecer a chance de um teste’. E eu respondi: ‘Oh, tudo bem.’ Eu me lembro de estar muito auto confiante naquele dia, então e dizia: ‘Mas quando eu o fizer, eu vou ficar com o emprego. Então vamos falar com o que vai acontecer quando eu estiver no emprego.’ E Rod respondeu: ‘Oh, oh... melhor você voltar para o hotel com a gente.’”

Steve Harris: “Eu nunca fui muito fã do Samson, mas eu sempre pensei que o cantor deles era bom. E porque estávamos tendo problemas com o Paul mais ou menos desde o princípio, eu suponho que eu sempre mantive um olho aberto para cantores. Eu apenas tinha uma vaga impressão de que Paul nos deixaria na mão um dia e então teríamos que arranjar outra pessoa. Então eu vi o Samson umas duas vezes e pensei: ‘Yeah, o cara tem uma voz muito boa e ele sabe como segurar o público.’ Eu achei que ele soava um pouco como Ian Gillan, realmente. Então quando a merda realmente atingiu o ventilador no caso do Paul, ele foi uma das primeiras pessoas em quem pensei. Rod não gostou muito da idéia, ele nunca perdoou o Samson por ter-nos atrapalhado na época. Mas eu não me importava, eu só pensava que o cara tinha uma grande voz. Então eu disse: ‘Foda-se com isso, eu o quero!’ Assim nós demos um jeito de ir ao Reading para dar uma olhada e ver se ele estava interessado.” 

Bruce foi fazer sua audição para a banda em Hackney, no dia seguinte. Ele conta suas impressões:

“Assim que eu entrei eu sabia que era uma coisa completamente diferente de tudo que conhecia até então. Eles tinham roadies de verdade, um sistema profissional de monitores, tinham carros para transporte, eles tinham tudo. Eu pensei ‘Certo, não vai ter gente puxando fumo no fundo do ônibus então.’ Só que depois descobri que tinha bastante. Mas, quero dizer, não era do mesmo tipo de clima que tinha no Samson ou qualquer outra banda que eu tenha estado. Eu fiquei numas de ‘Ok, bem, esses agora são os caras grandes com quem você está tocando, então você tem que aprender a jogar pelas regras dos caras grandes .’ E isso estava bom para mim. Eu já tinha me encontrado com o Steve umas duas vezes. E tinha conversado um pouco com ele mas nada que tenha feito muito impacto comigo. Eu não pensava que ele era o messias que muitos faziam idéia dele, nem o ogro que outros diziam que ele era. Eu o via como um cara que tinha uma boa personalidade. Ele era muito amigável, sabe? Mas aquela coisa toda que envolvia o Iron Maiden, aquele clima intenso, quase de auto importância, eu o achava intimidador, tenho que admitir. Eu pensei: ‘Isso é realmente necessário?’ Mas eu acho que sim, porque você cria aquele clima em volta de você o que é realmente importante. Ele atrai as pessoas como um ímã para você. Fãs e patrocinadores do showbiz. Você consegue respeito porque você o exige. E era isso que eles tinham.

“Então eu comecei a cantar e nós tocamos ‘Prowler’, ‘Sanctuary’, ‘Running Free’ e ‘Remeber Tomorrow ‘. Aí passamos para ‘Murders In the Rue Morgue’ e outras mais, mas eu acho que nós já sabíamos desde aí. Todo mundo sacou imediatamente, sério. E aí já queriam me por num estúdio logo depois, para saber como eu soaria num estúdio, e Steve telefonou para o Rod e disse: ‘Quando teremos que ir para a Escandinávia? Podemos ter um tempo no estúdio esta tarde?’ Então virou para mim e disse ‘O que você acha disso?’ Eu respondi ‘Fuck it, vamos lá colega, o que você quiser, vamos agora se você quiser.’ Então fomos ao estúdio e eu entrei e cantei em quatro faixas e aí teve uma espécie de conferência (entre eles) e eu pude ver o Rod num canto falando; ‘Vocês tem certeza?’ Vocês tem certeza?’ e todos os outros estavam basicamente dizendo: ‘Oh, cale a boca’, você sabe, e isso foi tudo. Saímos todos e ficamos estupidamente bêbados e eu estava no Iron Maiden!”

Os boatos sobre a saída iminente de Paul voavam na imprensa, principalmente na revista Sounds, que era a mais importante na área hard/heavy daquele tempo. O grupo muito sabiamente resolveu então não dar tempo para que os fãs ficassem debatendo demais sobre essa catástrofe. Nem deram muitas explicações tampouco.

Steve Harris: “Nós sempre dizemos que foram ‘diferenças musicais’ sempre que alguém sai. Mas é mais para a proteção deles do que nossa. Já é o bastante que eles não estejam mais na banda, não precisa ficar insistindo nesse assunto, sabe?”

Assim sendo trataram de apresentar o novo vocalista logo, anunciando uma apresentação no Rainbow, no dia 15 de novembro daquele ano. Claro que resolveram antes testar a reação da platéia em terras estrangeiras, fazendo cinco shows na Itália (mais exatamente Bolonha, Roma, Florença, Udine e Milão). Como sabemos, os shows foram um grande sucesso, casa lotada e fãs enlouquecendo, como sempre. Ninguém parecia ter notado qualquer mudança e o próprio Bruce se surpreendeu com a facilidade com que se sentiu à vontade com sua nova banda. “Eu me senti em casa desde o princípio. A coisa toda me pareceu uma família em que eu de repente tinha me tornado parte.” O resto da banda também ficou muito contente em ver que, se Paul era uma incógnita sobre de como seria sua performance, Bruce sempre daria o melhor de si noite após noite, sem exceção.

Adrian Smith sobre a primeira apresentação de Bruce: ‘Se ele estava nervoso, ele não demonstrou. Ele simplesmente entrou no palco e cantou como se estivesse na banda desde o começo.”

Mas encarar o primeiro show na Inglaterra não seria tarefa tão fácil assim, como o próprio Bruce admite: “Eu não estava preocupado em fazer bem o meu trabalho, eu senti que já tinha provado bem isso na Itália. Era mais a questão de saber se os fãs realmente iriam me aceitar. Não era minha culpa que Paul não estivesse mais na banda, mas era inevitável que qualquer ressentimento que pudesse haver no platéia ele quase que certamente seria dirigido para mim.”

Apesar de alguns estraga-prazeres terem gritado o nome de Paul aqui e ali no show, a estréia de Bruce foi um sucesso sem precedentes. Sua performance atlética, correndo de um lado para o outro do placo, subindo nos stands das luzes e nunca parando de se mexer, era muito diferente da de Paul (que sempre ficou mais parado quando não estava cantando). Steve, que até então era o que mais agitava ao vivo, tinha encontrado um competidor à altura. E não ficou triste com isso. Sempre sonhara com um frontman que fosse mais do que um cantor. A banda saiu do Rainbow com a certeza de que seu futuro estava garantido.

Dave Murray: “Ele realmente sabia como segurar a platéia. E ele dava tudo nisso de um jeito que Paul nunca conseguiu. Paul era grande quando estava cantando, mas ficava um pouco perdido no palco, talvez , o resto do tempo. Bruce não parava de se mover por todo lado e dar tudo de si, cantando ou não.”

Malcom Dome, que trabalhou com o Maiden muitos anos, coloca o seu ponto de vista: “A maioria das pessoas achava que Paul Di’Anno era um grande frontman e quando ele foi despedido, eles acharam que a banda estava agora num buraco. Então Bruce apareceu e tudo mudou. Ele era a perfeita peça que faltava no quebra-cabeças para torná-los uma gigantesca banda internacional. Se Paul tivesse ficado e Bruce não aparecesse, eu acho que eles teriam lutado muito mais para conseguir ir além de meados dos anos 80. Eles precisavam de algo mais e Bruce era esse algo mais. Mas você tem que dar crédito ao Steve e ao Rod por terem percebido isso, e terem feito a escolha certa na hora certa. Teria sido fácil foder com tudo, como a maioria das bandas da NWOBHM fez de um jeito ou de outro. Mas não o Maiden. Eles ficaram firmes até conseguir fazer a coisa direito, e a partir daí nada podia pará-los.”

Bruce Dickinson: “Eu não tinha nada planejado sobre o que eu iria fazer uma vez que estivesse no palco com eles. Eu apenas deixei as coisas acontecerem bem espontaneamente. A única coisa de que tinha certeza era a de que eu não ia ser um clone do Paul Di’Anno – não nos vocais, não visualmente ou de qualquer outro modo. A primeira vez que falei com Rod a respeito do trabalho, em Reading, eu disse: ‘Olha, eu não sei qual é a sua perspectiva do que eu deva fazer, mas eu tenho umas idéias bem claras sobre o que eu não devo fazer, e o que eu não devo fazer são as coisas que o cara antes de mim estava fazendo.’ eu disse: ‘Se você quiser que eu faça isso então é melhor arranjar outra pessoa agora, porque não vai nem valer a pena falar sobre isso.’ Aquelas coisas do tipo cockney que Paul fazia apenas não eram a minha. Eu nem achava que elas eram particularmente interessantes. Legal quando eles tocavam na Inglaterra, talvez, que era o lugar onde as pessoas podiam entender o que era tudo isso. Mas uma perda de tempo no resto do mundo. Eu só pensava que a banda era maior do que isso.” 

Adrian Smith: “Bruce era um daqueles poucos caras que realmente poderiam fazer o trabalho, sério. Ele tinha o alcance vocal e a experiência – tanto quanto a gente saiba ele era um talento garantido que definitivamente podia dar conta do serviço. Mas nós não podíamos saber com certeza até que fizemos aquelas primeiras apresentações com ele na Itália e no Rainbow, que foram feitas para todos nós nos entrosarmos antes de irmos para o estúdio. Essa foi a prova final para vermos que tínhamos feito a escolha certa. Vocalmente ele se encaixou com perfeição. Mas em termos de personalidade ele era completamente diferente de Paul. Ele não era tanto como um companheiro de bairro, era mais cosmopolita, se você entende o que eu quero dizer. Meio que, em qualquer país que estivéssemos tocando, Bruce sempre tentava falar com a platéia em sua própria língua, mesmo que fosse só um pouquinho, só para saberem que ele estava tentando se esforçar, e o povo adorava isso. Isso fez uma diferença para o ‘Awright! ‘ow are ya!’ que era quase sempre a maneira de Paul se apresentar. Depois disso, ir fazer um disco não era uma coisa que nos preocupava muito. De fato, isso nos fez ficar mais ansiosos para ir lá e mostrar o que podíamos fazer agora.”

Martin Birch, o produtor: “Apesar dele ser excelente nos discos que gravou com eles e que era ideal para a época, eu sempre pude ver que o Maiden estava indo para além daquilo que Paul estava capacitado para fazer. A partir deste ponto de vista, eu simplesmente não conseguia vê-lo tendo capacidade de cantar os vocais de algumas partes bastante complicadas das direções que Steve estava querendo explorar. A voz de Bruce era uma que eu podia trabalhar com muito mais facilidade. Ele tinha um alcance muito maior e podia levar os tons até um ponto que Paul não poderia de jeito nenhum. Então quando o Bruce entrou isso abriu as possibilidades para o novo disco de forma tremenda. Paul apenas não poderia fazer as coisas do jeito que Bruce fez e foi por esta razão que ‘The Number Of The Beast’ se tornou um marco histórico para o Iron Maiden, tanto quanto eu possa afirmar. Foi o disco que percebi que eles seriam tudo aquilo que eu esperava que fossem.”

E isso era só o começo...

terça-feira, 26 de março de 2013

Iron Maiden no Rock in Rio 2013!

Dia 22 de Setembro o Iron Maiden será a atração principal do Rock in Rio 2013, encerrando assim o festival da melhor maneira possível! No mesmo dia várias bandas de rock, nacionais e internacionais do mais alto nível, estarão tocando, tanto no Palco Principal, quanto no palco secundário, chamado de Palco Sunset. Confira abaixo todas as demais atrações que irão anteceder o show do Maiden na Cidade do Rock:

PALCO SUNSET (A partir das 14:30 Hs):

ANDRÉ MATOS + VIPER

DESTRUCTION + KRISIUN

HELLOWEEN + KAI HANSEN

SEPULTURA + ZÉ RAMALHO

PALCO MUNDO (A partir das 18:30 Hs):

KIARA ROCKS

SLAYER

AVENGED SEVENFOLD


IRON MAIDEN

domingo, 10 de março de 2013

Biografia: Steve Harris


Steve nasceu em Leytonstone, East London, Inglaterra, no dia 12 de março de 1956, “No quarto dos fundos da minha avó” . Era o filho mais velho de quatro, tendo ele três irmãs mais novas. Seu pai era motorista de caminhão e sua mãe uma dedicada dona de casa que ocasionalmente trabalhava em empregos temporários, mas que sempre colocou em primeiro lugar cuidar dos filhos. Havia bastante música na casa: Ele se lembra das irmãs e suas amigas dançando ao som dos hits do momento: “Coisas como Beatles, Simon & Garfunkel. Eu não consigo me lembrar se eu gostava disto desde o princípio, mas estava sempre no tocando. Da maneira que eu fui crescendo eu decidi que eu gostava. Eu consigo me lembrar de algumas letras delas até hoje, então fica claro que eu absorvi aquilo tudo.”

Mas antes de música havia outra coisa na vida do jovem inglês: Steve era bom em esportes na escola, tendo praticado tênis, cricket e futebol. Desde o princípio ele foi atraído por desenho e música, mas sua paixão infantil foi completamente dominada pelo futebol. Tanto que ele sonhava em se tornar jogador profissional, de preferência no seu amado time do coração, o West Ham United, um time local que deu ao mundo alguns dos jogadores que fariam parte da seleção campeã do mundo em 66: Bobby Moore, Geoff Hurst e Martin Peters.

“Eu costumava jogar futebol na rua” lembra-se ele hoje “Podia ser tanto com colegas quanto sozinho, só chutando a bola contra um muro. Se eu não tivesse uma bola uma latinha jogada fora servia. Eu estava sempre jogando com meus amigos e música ainda não tinha entrado na minha vida naquele momento. De fato eu devo dizer que futebol foi a primeira coisa que realmente senti uma coisa muito forte.”

Seu primeiro contato com uma jogo profissional aconteceu quando tinha nove anos e um colega o levou para ver uma partida do West Ham no seu estádio, perto de Upton Park. Ele mesmo se recorda da ocasião: “Você podia ir de ônibus até lá. E lá fomos nós, por nossa própria conta - sem adultos – e então o vimos bater o Newcastle por 4 a 3. E foi então que aconteceu, fiquei louco, um fã completo dos Hammers! Meu pai e meu avô eram torcedores do Leyton Orient (outro time local do East End) e eles não gostaram nem um pouco quando ficaram sabendo. Mas meu pai estava sempre fora de casa a trabalho e eles nunca realmente me levaram a um jogo, então é culpa deles eu virado fã do West Ham. Eu tinha a camisa oficial do time e tudo mais.” Futebol passaria o foco da vida de Steve pelos próximos sete anos, tempo durante o qual ele fez tudo para realizar seu sonho de se tornar realmente um jogador de seu time do coração. Passional em tudo que se dedica, esse sonho dominou todos os seus pensamentos de infância.

“Eu jogava futebol no time da escola, e também tênis. “ Ele se recorda “Eu gostava de música e de desenho, mas o futebol era sempre a prioridade número um para mim, quando eu era garoto.” Tão logo Steve começou seu estudo secundário na Leyton High, já estava jogando para o time da escola todo sábado e, para um time amador local (o Beaumont Youth), todo domingo. “Eu jogava bem em qualquer posição, exceto meio de campo e goleiro. E isso apenas porque eu era muito baixo. Eu podia correr muito bem com a bola dominada. Nós tínhamos um bom time em Beaumont. Dos doze caras que jogavam no primeiro time sete ou oito viraram profissionais de vários clubes. Nós jogamos contra o Orient Youth uma vez e os derrotamos por 5 a 1! Meu pai e meu tio vieram ver a partida. Eu marquei dois dos gols e meu pai ficou muito contente. Foi nesse ponto que pensei na possibilidade de me tornar profissional.”

Steve era, de fato, um bom jogador. Tão bom que chamou a atenção de um “olheiro” famoso no local, Wally St. Pier, que o convidou para treinar no time juvenil do West Ham. Ele mal pode acreditar quando isso aconteceu: “Ele era uma figura meio lendária por ali, sempre rondando meio escondido. Nunca ninguém conseguia dizer se ele estava por ali ou não, mas eu acho que ele me viu jogar umas duas ou três vezes e então eu recebi uma proposta, via Beaumont, para ir treinar no West Ham. Eu tinha apenas 14 anos e não podia acreditar naquilo! O diretor do clube chegou até mim e me contou. Eu estava nas nuvens! Quando eu fui pela primeira vez ao West Ham eu estava me borrando todo, para ser honesto. Mas por sorte eu tinha um outro cara que eu conhecia do clube, Keith Taylor, que também foi escolhido para ir lá – eu ainda o vejo algumas vezes. Até meu pai ficou encantado. Ele fez um comentário maldoso por ser do West Ham, mas eu sabia que ele estava feliz. Era uma coisa muito excitante para a época.”

O que parecia um sonho tornado realidade logo azedou quando Harris descobriu que o ritmo e a dedicação exigidos pelo futebol profissional eram muito maiores do que imaginava. E, aos 14 anos, o jovem adolescente não estava muito a fim de abrir mão das festas, da turma e das meninas para ficar treinando e jogando dia após dia, praticamente sem descanso. “O ponto focal de ser um jogador profissional é que você tem que ser incrivelmente dedicado. É algo assim como se tornar um monge, e isso é muito difícil quando você tem apenas 14 ou 15 anos. Você está na idade em que todos os seus amigos começam a sair e se divertir e você sabe que você simplesmente não pode. Eu queria muito sair, encontrar com as meninas, tomar uns goles e me divertir com meu colegas. Eu estava treinando todos os dias da semana – duas vezes por semana no West Ham, uma vez pelo time da escola, então tinha os domingos. No único dia em que eu não estava treinando era época dos jogos da escola e isso também era futebol. E ainda por cima tinha três jogos todos os finais de semana. Era inacreditável, eu estava tão em forma que não dá para crer. Mas você não percebe isso na época.” Logo Steve concluiu que precisaria escolher entre a dedicação total ao futebol ou partir para outra.

“Eu acabei concluindo que aquilo não era o que eu queria fazer, o que foi um choque para mim de uma certa forma. Desde que eu tinha sete ou oito anos e vi o West Ham pela primeira vez eu pensava: ‘Isso é o que eu quero ‘. Meu filho aos sete anos fala a mesma coisa: ‘Eu quero ser jogador de futebol quando crescer’. Eu era do mesmo jeito. E então quando você tem que enfrentar a dura realidade você descobre que tem que ser realmente dedicado ou então está perdendo tempo. Há um monte de jogadores talentosos que simplesmente não agüenta isso. Eu não me achava melhor nem pior do que qualquer outro jogador daquele tempo. Eu apenas pensei: ‘Eu não posso fazer isso. Eu não posso ser tão dedicado a isso.’ E me perguntava, se eu não posso me dedicar a algo que eu amo, o que é que eu quero mesmo fazer então?

“Meus pais não me pressionaram muito. Sei que muitos pais fazem isso, mas os meus não. Eu é que tentei me pressionar, mas eu pensei: ‘Não quero mesmo fazer isso.’ Foi um choque concluir isso. Eu até deixei completamente de jogar futebol durante um ano depois de me decidir e isso quase me levou à loucura. Quer dizer, o que eu ia fazer?”

Com um grande peso no coração deixou de lado seu antigo sonho de ser “um novo Geoff Hurst”. É certo que Steve jamais abandonou de todo sua antiga paixão: um ano depois voltou a jogar por prazer. “Eu voltei a jogar pelo prazer da coisa. Eu comecei a jogar de novo por um clube que eu costumava participar, o Melbourne Sports, e eu ainda estou jogando com eles, de vez em quando, até hoje.”

Assim, Harris passou para sua outra paixão: a música. Tinha decidido se tornar um rock star. E logo começou a deixar o cabelo crescer, como era moda entre roqueiros da época. Não sem que tenha causado certos acidentes de percurso.

Steve: “No futebol as pessoas costumavam me chamar Georgie Best por causa do meu cabelo ser tão longo. Mas isso não tinha nada a ver com George Best, era mais por causa do Chris Squire (baixista do Yes). Meu cabelo nunca tinha sido um problema até eu me juntar a um clube de tênis, quando eu tinha uns 16 anos. E na hora esse cara veio e me disse: ‘Oh, seu cabelo é um pouco cumprido, não é?’ E eu me virei e disse: ‘Olha, antes de começarmos, nem meu pai me diz para eu cortar o meu cabelo, então eu não tenho que dar satisfações a você.’ Ele me disse: ‘Bem, não é necessário ser desse jeito.’ E eu disse: ‘Bem, não fique me falando sobre o meu cabelo.’ Me levantei, fui embora e foi isso – eu não joguei tênis por um bom tempo depois disso. Eu não sei se coisa assim ia acontecer no futebol, com esse códigos de como se vestir que eles tem impõe quando você assina um contrato profissional. Mas eu tinha essa coisa, naquele tempo, sobre não cortar o meu cabelo. Era apenas (uma questão de) princípio.” Música era uma ocupação que permitiria Harris expressar-se e manter seu cabelo grande.

“Eu realmente não comecei a tocar até os 17 anos.” Relembra ele “Mas eu costumava comprar discos de vez em quando desde que eu tinha 14 ou 15 anos. O primeiro disco que eu tive foi comprado para mim. Eu tinha só uns cinco anos e pedi aos meus pais que comprassem o tema do filme ‘Exodus ‘. Eu realmente adorava aquele tipo de música, eu acho que ainda tenho o disco em algum lugar. É bem épico, bem do estilo que sempre me chamou a atenção. Então desta época em diante eu passei a pegar discos de vez me quando. Mas eu tinha 14 anos quando comprei meu primeiro LP – um álbum compilação desses sucessos de reggae – coisas como ‘Monkey Spanner’ de Dave e Anselmo Collins e ‘Big Five’ do Judge Dread.

Era 1970: Reggae, por mais estranho que pareça, era a música escolhida para a primeira geração na Inglaterra de um movimento que seria conhecido como skinheads (ou Carecas, como ficaram conhecidos no Brasil). Os uniformes eram parecidos com os atuais desse infame grupo. Mas naquela época as coisas eram diferentes, havia menos idealismo ligado ao neonazismo e Steve entrou nessa por motivos menos violentos dos que os que adotaram o estilo em tempos recentes. Ele mesmo se recorda bem da fase:

“A maioria de nós era o que hoje em dia costumam chamar de skinheads, eu acho. Mas eu não era realmente um grande fã dessa coisa toda. Eu apenas comprei aquele disco para aprender alguns passos da dança. Você sabe, para poder chegar mais em festas. Se você não soubesse a dança você não conseguia descolar meninas. Nenhum de nós estava totalmente envolvido com isso (com o movimento skinhead). Eu nunca cortei o meu cabelo, nunca tive aqueles cortes máquina zero, mas cheguei a usar todo o aparato, uniforme completo, botas e coisas assim. Mas depois de um tempo você passa para a moda seguinte e depois para outra, até chegar às calças de couro, cruzes de madeira e fica ouvindo Free e Black Sabbath.”

Nessa época, já tendo deixado a moda skin para trás há um bom tempo, Harris fez amizade com um colega de escola, Pete Dayle, e juntos passavam muitas horas na casa de Dayle, jogando xadrez ou outro jogo qualquer. Acontece que o novo amigo tinha uma boa coleção de rock que punha para tocar durante as partidas, o que chamou a atenção de Steve. “Era um tipo de coisa que eu nunca tinha ouvido antes. E eu ficava pensando ‘O que é isso?’. Basicamente era o que hoje chamamos de rock progressivo. Artistas como Jethro Tull, King Crimson e Genesis.”

Steve ficava intrigado já que todo mundo na sua turma gastava todo o dinheiro com coisas relacionadas a futebol, enquanto que seu amigo torrava toda a grana em discos, além de ter um aparelho de som muito bom. Steve começou a ficar curioso e gostar do que ouvia. Pediu para que o amigo lhe explicasse o que era aquilo. Ainda meio verde, Steve descobriu que achava alguns bons e outros, “esquisitos”.

Mas a grande virada de sua vida aconteceu quando Pete deixou que Steve levasse alguns discos de sua coleção para ouvir em casa, onde poderia escutar com mais atenção. Assim, Harris levou discos como This Was do Jethro Tull, um antigo Genesis e um Deep Purple. “Aquilo me enlouqueceu! – fiquei numas de ‘eu vi a luz, cara!’ Especialmente o material do Genesis e Jethro Tull. Eu não podia acreditar em algo tão bom assim. Coisas como The Musical Box (do disco Nursery Crime do Genesis). Quero dizer, até hoje sinto um nó na garganta quando ouço estas coisas.”

Até hoje Harris assusta os fãs quando lhe perguntam quais são seus álbuns preferidos de todos os tempos: ele sempre cita Foxtrot do Genesis, provavelmente Recycled do Nektar ou algum disco do Jethro Tull.

Apesar de alguns fãs terem dito que tais discos seriam coisas datadas e antigas, Steve chegou mesmo a escrever a alguns deles respondendo que “eles mudaram a minha vida, realmente. Achei aqueles sons fodidos de tão bons. E o próximo passo era, eu queria imediatamente tentar tocar aquele material.”

(Obs. Harris renderia algumas homenagens a essas influências iniciais em lados B de compactos do Maiden e, principalmente, no EP Aces High, gravando músicas do Jethro Tull, Nektar e Mountain.)

Inicialmente, como é muito comum com qualquer garoto que não sabia nada sobre música, Steve se interessou pela bateria: “Mas aí eu pensei: ‘não posso tocar bateria, porque não tenho lugar para praticar e é muito barulhento.’ Ao invés disso nosso herói resolveu comprar um violão usado para começar a praticar. “Eu decidi que ia pegar a coisa mais próxima à bateria, que é o baixo e tocá-lo junto com a bateria.” Alguém tinha dito a Harris que deveria primeiro aprender violão, o que ele começou a fazê-lo, chegando a ensaiar alguns acordes. Quando viu que não tinha nada a ver com o baixo, tratou de conseguir juntar 40 libras duramente, até poder comprar uma cópia de um baixo Fender.

Um colega de escola, Dave Smith, lhe ensinou os quatro acordes básicos para tocar rock: Mi, Lá, Ré e Sol. Steve começou então a praticar no seu baixo todos os dias. “Uma vez que coloquei as mãos num baixo eu vi que podia fazê-lo.” Lembra ele “Foi algo como ‘foda-se com os acordes’, apenas toque as cordas, você sabe, e a coisa foi maravilhosa. Eu fui logo começando a fazer aqueles sons esquisitos, para cima e para baixo.” E acrescentou modestamente: “Eu acho que o baixo é mais fácil de tocar do que a guitarra, que é muito complicada de se tocar da forma devida, sério. Você pode aprender a tocar as linhas de baixo de ‘Smoke On The Water’ muito mais rápido que levaria para aprender a seqüência de acordes, e essa é a seqüência mais simples de todas. Eu amei isso. Pensei: ‘Isso é para mim.’ Eu ainda tentei pegar alguns songbooks e coisas assim, mas eles não tinham nada para baixo, a maioria era para guitarra e mesmo aqueles que chegavam a ter notas de baixo, geralmente estavam errados.”

Mas tocar as complicadas sequências neoclássicas de grupos como Yes ou Genesis não era tão simples assim. Então o jovem baixista resolveu tentar começando por alguns rocks mais fáceis que estavam na moda como ‘Smoke On The Water’ do Deep Purple ou ‘All Right Now’ do Free. Aos poucos foi melhorando o bastante para conseguir pegar coisa mais complexas e sutis de baixistas como Geezer Butler do Black Sabbath, cujas harmonias simples escondiam belas passagens de baixo bastante difíceis. “eu me lembro claramente de estar tentando tocar ‘Paranoid’ junto com o disco e simplesmente não conseguia. Eu então joguei o baixo na minha cama e fui dar uma volta. Mas no dia seguinte eu peguei de novo meu instrumento e quando toquei eu conseguia seguir nota por nota! Uma vez que eu conseguia o básico, eu buscava as notas mais sutis e começava a tentar ser um pouco mais esperto e conseguir tocar material de gente como Chris Squire e caras como ele, coisa que eu não conseguia ir muito longe durante um bom tempo.”

Esta mistura de estilos hard e progressivo fizeram com que Harris conseguisse desenvolver um estilo de compor raro até então, onde as ‘quebradas’ de ritmo comuns dos grupos progressivos se juntava ao peso e agressividade do heavy metal. Isso tudo, é claro, aliado a um ouvido antenado para melodias e uma imaginação fértil para letras. Harris era tão ligado a seu instrumento que até passou a compor nele, ao contrário da maioria dos baixistas (isso até os anos 80, quando passou a se dedicar também aos teclados).

Mais tarde outras bandas influenciaram decisivamente seu estilo de baixo e suas composições (Judas Priest, Scorpions, Wishbone Ash e outras). Mas a principal influência de sua persona de palco parece ter sido vinda de uma banda muito importante que influenciaria toda uma geração de músicos de metal dos anos 80 e seguintes: o UFO. Embora nunca fossem grandes vendedores de discos, a banda inglesa foi uma das primeiras a utilizar elementos do que hoje é chamado de metal melódico e fascinou o pequeno Steve muito pelo seu som avançado, pelo solos limpos e virtuosos do guitarrista Michael Schenker, mas principalmente pela performance do baixista Pete Way. Way, além de grande instrumentista e compositor, era um maluco no palco, não ficando quieto nem um minuto, bem ao contrário da tradição dos baixista de rock, mais discretos. Steve mais tarde copiaria não só grande parte de sua movimentação nos shows, mas também seu visual, como pode ser observado no documentário Too Hot To Handle do UFO (em que o próprio Steve aparece prestando depoimentos sobre a banda).

AS PRIMEIRAS BANDAS

Steve estava praticando duramente com seu baixo havia dez meses quando convenceu seu amigo Dave Smith a formar uma banda com ele. Ela levaria o nome de Influence.

Steve: “Nós nos batizamos de Influence. Dave era um anos mais velho que eu e tocava a guitarra. O vocalista era um cara chamado Bob Verschoyle, com quem eu costumava jogar futebol e ele estava só pensando em tentar fazer os vocais, e ele não era ruim, do jeito que foi. E tinha este outro cara chamado Tim – eu não consigo me lembrar de seu sobrenome – que tocava guitarra base e o baterista era um rapaz chamado Paul Sears que era fodíssimo; Ele era realmente um grande baterista, melhor do que o restante de nós juntos. Ele era veterano, tocou um algumas tours por clubes e coisas do gênero, e ele era dois anos mais velho que nós. Ele tinha começado muito cedo e era muito bom – ele costumava tocar como o Simon Kirke do Free e do Bad Company. Ele detonava nos tambores e eu adorava isso.”

Havia, claro, uns poucos shows muito preciosos nessa época, mas boa parte do tempo era gasto por eles apanhando dos seus respectivos instrumentos na casa de sua avó de Steve, tentando tirar as músicas dos sucessos da época até que conseguisse fazer algumas imitações passáveis delas.

Steve comenta sobre esses ensaios iniciais: “Nós tocávamos umas duas canções do The Who e ‘I’m a Mover’ do Free, então mais tarde eu incluí ‘Mr. Big’ também do Free, porque nessa eu podia fazer um solo de baixo. Tocávamos um par de músicas próprias com títulos bobocas como ‘Heat Crazed Vole’, que o Paul, o cantor, tinha escrito e outra chamada ‘Endless Pit’, que eu tinha vindo com o riff inicial e que acabaria sendo o riff de ‘Innocent Exile’ que acabaria sendo gravada no segundo disco do Maiden. Eu acho que o Bob escreveu as letras para uma outra canção, mas eu não consigo me lembrar o que era.

“Nós costumávamos ensaiar no quarto dos fundos da minha vó, e era bastante engraçado, porque eu ficava preocupado se não estaríamos perturbando a mulher que morava na casa ao lado com todo aquele barulho. Mas a minha avó era dura como ela só e sempre falava algo como ‘Eu não ligo merda nenhuma para o que ela pensa, se ela chegar aqui para ficar se lamuriando sobre isso, diga a ela que vá se foder!’ Dura como carvalho, minha vó. Então um dia ela veio do pub e me disse que tinha visto a vizinha e perguntou a ela sobre o barulho, se isso a estava incomodando, e a velha senhora respondeu: ‘Oh, não, eu não ouço nada, eu sou um pouco surda, querida.’!”

Com o nome de Influence o grupo de Steve só tocaria uma vez, ainda que a modesta apresentação tivesse conseqüência positivas mais tarde. Foi em Poplar, perto de onde moravam, num pequeno concurso de bandas amadoras: “Só tivemos que tocar por 15 minutos, o que era ótimo porque nós só tínhamos umas quatro músicas que podíamos tocar bem, e aí apresentamos as três originais que escrevemos. Foi numa velho hall de uma igreja daquele lugar, e nós ficamos em segundo lugar! A banda que venceu era uma do tipo The Osmonds (banda teen americana da época, bem na linha Hanson, só que ainda mais comercial e bonitinha), você sabe, terrível. Não que fôssemos muito melhores. Eu estava tão nervoso que fodi com essa longa introdução que tínhamos trabalhado para a primeira música e o cantor pensou que eu estava afinando o baixo e não entrou quando deveria tê-lo feito. Então eu tive que começar de novo e desta vez todo mundo entrou na hora certa e o público pensou que era parte da canção (o erro) de qualquer maneira e conseguimos dar a volta por cima. Mas era bem ruizinho, realmente. Nós não fomos pagos nem nada, nós éramos bem baratos naqueles tempos! Eu acho que deveria ter uns cinco ou seis outros grupos, então não era nada de importante e não havia muita gente assistindo.”

O mais importante naquele dia foi que acabariam fazendo amizade com uma pessoa muito importante para o futuro da banda: o promotor do concurso, David Beazley, que seria mais tarde conhecido mundialmente pelo seu apelido/nome profissional de Dave Lights.

Dave Lights: “Eu vivia num vicariato da vila chamado Bridgehouse, que também era um centro comunitário. E eu estava promovendo coisas como noites dançantes para jovens desde que eu tinha 15 anos. Naquela noite em particular – deve ter sido em 1973 – eu tinha decidido que ia promover um concurso de talentos e Steve e sua banda entraram. Eles ficaram em segundo. Os vencedores foram uma daquelas bandas em que os pais botam um monte de dinheiro neles – duas garotas e dois garotos, um tipo de conjunto familiar, como o Abba. Mas, claro, sendo eu mesmo mais rockeiro, eu achei que o bando do Steve tinha sido a melhor coisa da noite e foi assim que cheguei para conversar.”

Eles voltariam a se ver mais vezes por causa de uma coincidência: Lorraine, a namorada de Steve já naquela época (depois sua esposa), era colega de escola de Kim, namorada de Dave. Assim os dois casais estavam saindo juntos, inclusive indo para um pub que Steve gostava muito, situado em Barking Road, que ironicamente também se chamava Bridgehouse – e que quase sempre tinha apresentações de bandas ao vivo. (a primeira vez que Steve e Lorraine saíram juntos havia sido também no mesmo lugar, quando foram ver uma banda de alguns amigos dele tocar lá.

Gypsy´s Kiss
Quando a banda de Steve foi tocar ao vivo de novo, num pub chamado Cart And Horses, em Maryland Point, Stratford, Steve decidiu que o nome Influence deveria ser mudado. “Eu queria um nome mais divertido, mais para cima, porque estávamos tentando conseguir algumas apresentações e Influence soava um pouco sério demais. Não soava como uma coisa engraçada, sabe?” Foi por isso que resolveram trocar para Gypsy’s Kiss por ocasião de sua nova apresentação (Obs. o nome, na gíria cockney, significa ir ao banheiro). Mas a mudança não ajudou a banda a durar mais tempo, como Steve explica: “Fizemos três apresentações no pub Cart And Horses e duas no Bridgehouse, em Canning Town. E então acabamos! Diferenças musicais! (risos) A verdade é que não consigo me lembrar quais foram as verdadeiras razões pelas quais nós nunca conseguimos ficar juntos. Mas nós nos separamos, basicamente. Eu suponho que os outros perderam o interesse, ou qualquer coisa assim. Essas coisas acontecem nessa idade. Você faz cinco shows aos 18 anos e isso parece muita coisa para algumas pessoas. Eles ficam satisfeitos então, era tudo o que queriam. Só uma experiência. Mas uma experiência não foi o bastante para mim, eu realmente gostava de me apresentar e queria que isso durasse para sempre!”

Steve se achava muito novato para conseguir outros músicos para formar sua própria banda. “Basicamente, eles eram os únicos que eu conhecia e eles meio que sumiram.” Então o jovem baixista pensou que a melhor coisa a fazer talvez fosse se juntar a alguma banda estabelecida para tocar e se aperfeiçoar. Claro que ele ainda não tinha experiência suficiente para tentar alguém muito conhecido, mas apenas uma banda que levasse a música a sério como ele fazia. Isso o levou ao Smiler.

Smiler em meados de 1974.
O Smiler era liderado por dois irmãos gêmeos, Tony e Mick Clee, ambos guitarristas. Steve fez um teste com eles num pub chamado White Hart, em Enfield, em fevereiro de 1974. “a idéia era me juntar a pessoas que fossem mais experimentadas do que eu, porque que queria aprender as coisas, eu queria me ligar. E o Smiler era razoavelmente conhecido no circuito de bares. Eles já tinham feito algumas apresentações; eles tinham um repertório formado e eu estava me cagando de medo quando fui para a audição. Foi a primeira audição que eu tinha ido na minha vida. Então, claro, eu disse a eles: ‘Bem, eu já fiz um monte de trabalhos com várias bandas’. Você sabe, fazendo um pouco de cera. Eu tinha apenas 18 anos e eles todos tinham algo como 26 anos, o que eu pensava que eram realmente velhos naquele tempo.

“Eu perguntei que tipo de material eles estavam tocando e um deles me disse: ‘Bem, nós tocamos um pouco de Wishbone Ash, uma música do Free e algumas coisas do Savoy Brown’. Eles tinham um som mais para o boogie do que o material que eu tocava até então, mas isso era bom porque então eu tinha que ir para casa e aprender a coisa, e eu acho que consegui dar conta bastante bem daquilo. Eles tinham essa de duas guitarras soando iguais, estavam muito numas de Wishbone Ash. Então eu pensei: ‘Yeah, é isso aí.’ E eu consegui o lugar com eles e tive que aprender todo o set de uma hora e quinze minutos. Eram todas covers, tinha uma original eu acho, mas de novo era todo material baseado no boogie. E então aquela foi realmente uma boa experiência, indo fundo e tendo que aprender um set inteiro. E estávamos literalmente excursionando em poucas semanas. Eu entrei meio que em cima da hora, mas eu gostei disso. Nenhuma confusão. E nós nos demos bem – este tipo de material funciona muito bem em bares de qualquer maneira, é fácil de bater os pés no ritmo.”

Um problema acabou acontecendo quando Steve estava tocando nos pubs há apenas algumas semanas na banda. “O baterista queria sair porque o Smiler estava recebendo mais e mais ofertas de apresentações e ele simplesmente não podia ficar dispondo de tempo.” O grupo saiu à cata de outro baterista para substituí-lo e acabou encontrando um jovem muito bom: Doug Sampson, que seria um dos primeiros bateristas do Iron Maiden. Um outro nativo da região (mais exatamente em Hackney, no dia 30 de junho de 1957), ele fez uma audição para o Smiler quando tinha então 18 anos, num quartinho detrás de um pub perto de Chingford, em North London. Steve comenta sobre esse teste: “Nós tínhamos outros bateristas e para ser totalmente sincero os outros eram tecnicamente melhores do que Doug. Mas o Doug era um cara local, uma figura e era divertido. Você sacava isso no momento em que ele chegou, então isso pesou. Ele era um bom baterista, não me leve a mal, mas a sua atitude e sua personalidade é que realmente o qualificavam – a banda se chamava Smiler (sorridente) afinal e Doug estava sempre sorrindo.”

Doug Sampson: “A banda tocava um material mais voltado para o blues e o boogie, principalmente covers do Savoy Brown, Wishbone Ash e ZZ Top. Os gêmeos eram os chefes, mas ficou claro que Steve tinha idéias próprias também. Essa foi a minha primeira banda de verdade; antes do Smiler eu tocava em pequenos conjuntos com colegas de escola, nenhum que se destacasse. Apenas tocando aquelas coisas básicas de rock – Cream, Hendrix, essas coisas.”

Com novo baterista à bordo, o grupo voltou ao circuito de bares do circuito de East London. Também começaram a incluir uma ou outra composição própria, escritas pelos irmãos Clee. E foi nessa época que Steve começou a experimentar escrever alguma coisa sua. Logo também notaram que um vocalista ia ser uma coisa boa para a banda e ajudaria a valorizar as novas músicas que estavam compondo. Até então os dois guitarristas se revezavam nos vocais.

Através de um anúncio na Melody Maker eles acabaram recrutando um certo Dennis Wilcock (outro futuro Iron Maiden, ainda que por pouco tempo). Steve comenta sobre essas mudanças: “Nós começamos a chamar pessoas para a banda e eu comecei a escrever uma ou outra música de vez em quando, tentando fazer a coisa ir mais para o hard rock. Eu consegui convencê-los a tocar ‘Rock Candy’ do Montrose e coisas como essa, e chegamos a fazer uma versão primitiva para ‘Endless Pit’ que é a que nós hoje em dia chamamos ‘Innocent Exile’, e tinha a ‘Burning Ambition’, que teve uma versão que acabou sendo o lado b do primeiro compacto do Maiden, o ‘Running Free’.

“Então quando eu comecei a escrever umas duas outras músicas que eram um pouco mais o que seria o estilo do Maiden, eles disseram: ‘Ah, não... há muitas mudanças de tempo nelas.’ Eles não disseram: ‘Nós não vamos tocá-la’, apenas não mostravam muito entusiasmo por elas e eu pensei: ‘Eu vou ter que sair, eu tenho que formar minha própria banda porque eu acho que estas canções são muito boas.’

Quando Steve saiu do Smiler, ele convidou Doug Sampson para se juntar a ele, mas o baterista hesitou. Como Steve explica: “Doug Sampson deixou o Smiler comigo mas levou um tempo antes que fôssemos tocar juntos de novo. Nós nos dávamos bem e nós formávamos uma boa seção rítmica, e eu achava que eu devia isso a ele de avisá-lo o que estava na minha cabeça. Eu não pedi para ele deixar o Smiler comigo, eu só falei: ‘Olha, é isso que eu vou fazer, eu estou te dizendo porque você é meu amigo. Mas você faz o que você quiser.’ Porque a banda estava acontecendo, eles tinham muitos shows marcados. Tudo que eles tinham que fazer era me substituir e seguir em frente. Eu não sei porque mas ele me disse: ‘Oh, foda-se, eu tive o suficiente e eu estou saindo também.’

“Então basicamente foi isso: eu saí para formar minha própria banda mas eu não tinha outros músicos ou qualquer pessoa envolvida naquela época. Eu só pensei em escrever algumas músicas e tentar juntar algumas pessoas, então eu não tinha como oferecer um trabalho para Doug ou nada assim, você sabe, e só disse: ‘Eu vou te ligar daqui a algum tempo se alguma coisa acontecer’, ou coisa assim. Mas aí ele se juntou a uma outra banda e quando eu reuni o pessoal do Maiden ele não estava realmente disponível, então eu acabei recrutando o Ron Mathews.”

Doug Sampson se lembra de ter sido convidado por Steve para integrar sua nova banda, mas diz que recusou o convite porque “não era só com o Smiler que eu estava cheio, realmente, eu estava farto daquela coisa toda de bandas de rock, naquelas alturas. Eu estava completamente duro e eu precisava de arranjar algum dinheiro, então eu decidi arranjar um emprego.” Ele arranjou um, mas a vontade de tocar voltou logo e ele acabou se juntando a uma banda chamada Janski: “Era uma banda especializada em tocar covers dos Eagles e coisas tipo latin-rock (como Santana).”

A PRIMEIRA FORMAÇÃO DO IRON MAIDEN

Iron Maiden em 1975: Steve Harris (Baixo), Paul Day (Vocais), Dave Sullivan e Terry Rance (Guitarras) e Ron Mathews (Bateria). 

Enquanto isso Steve estava começando do zero com sua nova banda, usando seus contatos que adquiriu nos tempos do Smiler para ajudá-lo. Eles passou as últimas semanas de 1975 juntando o que seria a primeira formação real do Iron Maiden. Ela seria formada no dia de natal de 1975, com Steve no baixo, Dave Sullivan e Terry Rance nas guitarras, Ron Mathews na bateria e Paul Day nos vocais.

Steve Harris: “Bem, Ron e Dave... eu não consigo me lembrar se foi através de um anúncio num jornal ou o amigo de um amigo, ou o que fosse, eu não consigo me lembrar agora como eles chegaram na banda. Eu sei que Terry costumava tocar numa banda meio pop e soube de nós através de conversas, ou num anúncio no jornal - tudo era baseado no Melody Maker naquele tempos, era aquele que tinha todos os telefones para shows e os anúncios para músicos no verso. E Paul Day era basicamente um cara local, que queria tentar cantar. Ele bastante bom, realmente. Ele acabaria entrando numa banda chamada More, que ironicamente, abriria para o Maiden numa tour européia algum tempo depois.”

Dave Sullivan e Terry Rance eram de Waltthamstow, também no East End, e se conheciam há muitos anos. Antes de se juntarem a Steve Haris, eles tiveram durante pouco tempo uma banda chamada The Tinted Aspects, que hoje Dave fala que era: “uma dessas bandas em que o maior show que deram foi num quarto. Terry era um pouco mais velho do que eu e ele já tinha tocado em umas duas bandas diferentes, eu acho. Então começamos a escrever juntos, apenas um material que nunca foi realmente tocado ao vivo. Os Tinted Aspects não duraram muito. Aí o Terry respondeu ao anúncio (de Steve Harris) no Melody Maker e eu meio que fui junto. Eu devia ter uns 21 anos naquela época. Eu comecei um pouco tarde. Eu havia começado a tocar guitarra aos 17 anos e as coisas aconteceram um pouco rápido.

“Eu estava ouvindo heavy rock, talvez não tão pesado quanto o Maiden estava começando a fazer. Mas para começar a gente fazia um monte de covers – Wishbone Ash, Thin Lizzy, tudo que você podia encaixar um trabalho de duas guitarras solo. E estava se desenvolvendo bastante bem. Ainda estava tudo muito cru, mas a base estava toda ali.”

Sullivan se lembra que a audição incluía uma demonstração de ‘Smoke On The Water’, do Deep Purple. Ele comenta: “Foi tipo só uma vez que tocamos e eles disseram: ‘Yeah, bom o suficiente. Vocês estão dentro’. Eram Steve e Ron, em primeiro lugar, então chegamos eu e Terry e quase que na mesma hora Steve disse que tinha um vocalista em mente. Eu não consigo me lembrar se Paul (Day) estava lá quando fizemos a audição. Mas Steve já tinha Paul em mente... eu acho que éramos bons. O fato de algumas das músicas ainda estarem nos shows deles até hoje já diz tudo. Elas precisavam de ser trabalhadas mas isso viria com o tempo...”

Steve veio com o nome da nova banda: Iron Maiden – um instrumento medieval de tortura que pode ser descrito como um tipo de caixão cheio de longos espinhos na parte interna. A escolha aconteceu, como diz Steve, “porque ele soava bem para a música. Eu estava sentado no quarto da minha mãe, falando sobre nomes para a banda e esse foi um dos que saíram e eu disse: ‘Yeah, esse é grande. Eu gosto dele.’ Eu não me lembro se eu pensei nele ou se foi minha mãe, ou alguém mais da minha família, eu não consigo me lembrar. Mas eu me recordo falando isso para minha mãe e ela disse: ‘Oh, esse é bom.’ Eu acho que tinha uma lista de uns quatro ou cinco nomes e ela disse: ‘Oh sim, este é o melhor deles.’

“O filme O Homem Da Máscara de Ferro estava passando naquela época, eu o tinha visto e acho que o nome veio dali, apesar de não haver realmente um iron maiden no filme. Eu só pensei que seria um bom nome para a banda. Iron Butterfly era conhecido antes disso e o engraçado é que quando fizemos nossas duas primeiras apresentações no Cart and Horses nós recebemos um telefonema no bar uma noite e, até hoje, eu não sei se era um trote ou coisa que valha, mas alguém telefonou e disse: ‘Nós nos chamamos Iron Maiden e vocês não podem usar esse nome!’ e toda aquela besteira. Mas eu só disse: ‘Isso é pura merda, porque nós nos chamamos de Iron Maiden, então vão tomar no rabo.’ Eu tenho que admitir, eu estava todo bravatas no telefone, mas quando eu desliguei eu pensei: ‘Oh, merda’ porque eles tinham registrado o nome. E você sabe, mesmo que estivéssemos apenas tocando em bares, nós não poderíamos usar o nome e naquela época isso me deixou preocupado. Mas nós nunca mais ouvimos falar deles. Mas aquilo pode ter sido um dos meus colegas me passando um trote, fingindo um sotaque nortista, eu não sei.”

Certo dia Steve comentou com Dave Lights que não tinha um lugar decente para ensaiar. Dave ofereceu sua casa, na Folly Street, bem atrás de um bar chamado Sir John Franklin. “Eles ensaiaram lá cerca de um ano.” relembra Dave “Geralmente umas três ou quatro vezes por semana. Eu estava na minha própria banda também naquele tempo, como cantor. Mas, quero dizer, nós nem sequer tínhamos um nome e não conseguíamos ir além das primeiras notas de ‘Smoke On The Water’ sem entrar em colapso. Mas o Steve estava com coisa muito boa, eu achava, bom de verdade. Além do mais, eu tinha de gostar, realmente, vendo que eles estavam em minha casa ensaiando três vezes por semana horas a fio. Você pode dizer que pelas alturas em que fizeram o primeiro show, eu conhecia as canções bastante bem!”

Steve Harris: “O lugar onde ele vivia era essa casa velha que pertencia a algumas freiras ou coisa assim. Apenas que elas não estavam mais lá e Dave Lights estava vivendo ali. E ele nos ofereceu algum espaço para ensaios, nesse lugar debaixo das escadas. (...) E ele então nos disse que: ‘Eu sei um bocado sobre lidar com iluminação, sabe.’ E esse tipo de coisa, e então foi mais ou menos daí que começamos.”

David Lights está até hoje com o Iron, cuidando da iluminação de palco e sendo uma espécie de assessor pessoal de Steve durante as tours.

Nesse tempo o Maiden se tornou uma espécie de banda semi residente do Cart And Horses. Era Dave quem dirigia a Van e Steve começou a usar os contatos que tinha estabelecido durante seus tempos no Smiler para conseguir apresentações. E havia gente nova para ajudar a promissora banda: um cara que tinha sido um dos ajudantes do Smiler, Vic Vella.

Steve Harris: “Ele era alguns anos mais velho do que nós. E ele tinha esta característica de estar sempre atento que você precisa tanto por perto quando está dando um show.” Vic permanece na trupe do Maiden até hoje e trabalha como auxiliar pessoal de Steve ajudando-o a manter suas quadras de tênis, seu campo de futebol e o bar que ele mantêm em sua mansão de campo em Essex. Mas nos primeiros tempos ele era, nas palavras de Steve, “Nosso motorista, nosso técnico de equipamento de palco e um tipo de irmão mais velho. Vic era um cara legal para se ter ao seu lado, e você precisava um pouco disso nos lugares em que estávamos tocando naquela época. Se alguém precisava falar com o nosso ‘empresário’ a gente apontava o Vic.”

Desde o princípio Steve deixou bem claro para os outros que ele queria uma banda que se concentrasse em tocar material próprio. “Eu sabia que precisaríamos começar tocando algumas covers, apenas para conseguirmos algumas apresentações. Mas eu já tinha algumas canções escritas, e isso é que era importante, tanto quanto eu me importava, levando os outros a aprender as canções primeiro e depois fazendo as coisas se acertarem em torno delas.”

Claro que Steve estava escrevendo seu material, mas ele não desencorajou os outros de trazerem suas próprias idéias, como Dave Sullivan revela: “Geralmente, se nós tivéssemos uma idéia, Steve a ouvia e se ele gostasse, ela entrava. Eu e Terry costumávamos ir à casa de Steve com dois violões e ele ligava seu baixo num velho gravador, que eu me lembre, assim ele ficava amplificado, mas não muito alto. Ele vivia na casa de sua avó, naqueles dias. Nós começamos apenas uma algumas idéias que ele tinha trazido de sua banda anterior. Coisas como o riff de ‘Innocent Exile’, que veio dos tempos do Steve com o Smiler. E eu e Terry sugeríamos algumas coisa também.”

Sullivan diz que o riff de entrada daquilo que se tornaria o hino da banda, ‘Iron Maiden’, foi idéia sua. “Eu me recordo bem que o riff do começo de Iron Maiden era meu” relembra ele “Nós só o tocamos e ficamos brincando com ele entre nós. Então o Steve o moldou ligeiramente e veio com outra coisa, que acabou virando a canção.”

Steve: “Eu toquei algumas das canções e eu disse a eles que tipo de material eu queria fazer. Eles estavam numas de Wishbone Ash e esse tipo de coisa. David Sullivan, em particular, estava curtindo muito Wishbone Ash. Eu não vou dizer que sabia totalmente o que eu queria fazer, porque eu não acho que você nunca sabe realmente isso, mas eu tinha uma direção que eu sabia que eu queria ir. Eu queria tocar um hard rock, material pesado com muito agressividade incluída. Mas também queria tocar material com muita melodia e muitas duetos de guitarra. Poderia ter sido canções de qualquer pessoa mas apenas aconteceu de eu estar escrevendo o material, e tentando juntar o repertório de qualquer maneira, porque eu pensei: ‘Bem, eu não posso trazer as pessoas para a banda se não tiver nada para tocar pra eles, então vou ter que escrever mais canções do que eu já tenha escrito.’

Livre da tarefa de ter que tocar músicas de outras pessoas, Steve deu corda à sua imaginação e foi durante este período que sua criatividade disparou e, na busca de uma identidade para a banda, que canções como ‘Iron Maiden’, ‘Wrathchild’, ‘Prowler’ e ‘Transylvania’ começaram a ser rascunhadas. Como o próprio Steve diz: “Elas estavam ainda em suas primeiras versões, por assim dizer. ‘Purgatory’ também é desses tempos, só que naquela época o título dela era ‘Floating’. Era então bastante diferente mesmo. Eles ficaram impressionados com o material, sabe, mas o resto do nosso repertório era de covers. A idéia era sempre de que, se fizéssemos uma cover, deveríamos tentar fazer uma que não fosse muito conhecida. No Smiler muito do nosso material era bem imprevisível, não era bem do tipo que o pessoal no pub conheceria, e muitas vezes eles pensavam que era uma canção nossa. Então eu decidi que preferia ir por este caminho , ao invés de tocar músicas que eram conhecidas demais.

“Então ao invés de tocarmos ‘All Right Now’ do Free, nós tocaríamos algo como ‘I’m A Mover’ (do mesmo grupo só que menos conhecida). Nós tocávamos algumas músicas que ficariam mais conhecidas mais tarde, mas que não eram na época: ‘Jailbreak’ do Thin Lizzy era uma delas. E tocamos uma canção chamada ‘Striker’ dessa banda chamada Tucky Buzzard – eles eram um grupo que gravava pelo selo do Deep Purple e eu os conheci através dos gêmeos do Smiler, porque eles gostavam deles. Nós não estávamos tentando enganar as pessoas, nós não estávamos mentindo sobre as músicas (sobre serem deles), nós apenas achávamos que havia algo mais legal do que simplesmente ir lá e tocar covers (conhecidas). Porque todas as outras bandas estavam tocando Doobie Brothers e ‘All Right Now’. Eu pensei ‘Foda-se com isso. Eu realmente quero fazer nosso próprio set.’ Então assim que uma música original entrava uma cover caía fora.

Já naquela época ficava clara uma marca registrada do Iron Maiden: as súbitas mudanças de andamento nas músicas. Uma coisa que se tornaria comum nos seus maiores trabalhos.
Steve Harris comenta sobre isso: “Naquelas alturas, o material mais intrincado que tocávamos era ‘Transylvania’ e provavelmente ‘Iron Maiden’, que era uma coisa meio esquisita para algumas pessoas. Na época os outros com certeza acharam que era um pouco estranha. Mas eu era muito influenciado pelo rock progressivo e para mim estas mudanças de andamento não eram nem um pouco estranhas. Eu achava que elas caíam como uma luva. Bandas quer eram do estilo progressivo, como o Genesis, Emerson, Lake & Palmer, Jethro Tull, Yes, King Crimson – Eu adorava ‘In The Court Of The Crimson King’ (obs. recentemente regravada por outra banda de metal, o Saxon). Então eu estava acostumado a essas mudanças doidas que pareciam vir do nada. Tipo ‘De onde diabos isso veio? O que eles estavam tentando fazer?” Você sabe.”

No entanto, Steve não andava muito satisfeito com seus guitarristas, como ele mesmo explica: “As coisas não estavam ficando muito fáceis, porque apesar de Dave e Terry serem dois excelentes guitarras base, e eles conseguiam levar o conceito de dupla de guitarras muito bem, nenhum dos dois conseguia tocar guitarra solo do jeito que eu queria. Eu queria uma banda que iria tocar um repertório bem veloz e um material que era um pouco mais complicado, mas que também iria arrancar sua cabeça com alguns solos também. E nem Terry nem Dave conseguiam realmente fazer isso. Eu comecei a pensar que eu precisava de um outro guitarrista para fazer isso.”

No entanto, o primeiro a perder o seu posto na primeira versão do Maiden não seria nenhum dos dois guitarristas, mas sim o cantor Paul Day. É Dave Sullivan que conta como foi que ocorreu: “Eu tinha viajado para a Flórida numas férias, e eu acho que quando voltei Paul já tinha saído e Denny (Dennis Wilcock) tinha entrado. Eu estava razoavelmente satisfeito, mas eu não tinha certeza de sua habilidade vocal. Mas Denny tinha a imagem que Steve estava buscando. Den já tinha estado em algumas bandas e ele era um pouco mais velho do que nós, e ele gostava de ditar algumas regras. Eu sempre me lembro dele rodando seu microfone no Cart & Horses e ele quase que me acertou. Eu pensei: ‘Yeah, isso é diferente.’”

“Nós sentimos que Paul era legal como cantor mas ele não tinha bastante energia ou carisma no palco.” Recorda Steve Harris “Nós fizemos uns bons 25 shows com ele, eu acho. Todo o tempo eu esperava que ele ficasse melhor, porque tinha uma grande voz. Mas no palco ele não era nem um pouco seguro, não naquele tempo pelo menos. Ele ficava muito nervoso e a coisa toda apenas não acontecia, então decidimos substituí-lo e foi aí que o Dennis Wilcock entrou.”

Wilcock era um fã ardoroso do Kiss, tinha bastante experiência de palco e não pensou duas vezes antes de usar vários truques teatrais para impressionar a platéia. Foi idéia dele o visual macabro que acabaria se tornando uma das marcas do Iron Maiden. Ele subia no palco usando a pintura de uma estrela vermelha no seu olho direito (não por acaso muito parecida com a pintura de seu ídolo Paul Stanley do Kiss). Na música ‘Prowler’ ele usava uma máscara de soldador (idéia que tirou de um show do Genesis). Durante alguns solos ele se transformava num vampiro, atacando as costas do guitarrista e fingindo que mordia seu pescoço. Mas o ponto alto dessas apresentações era em ‘Iron Maiden’ quando ele passava o fio (cego) de um florete através de sua boca e cuspia golfadas de sangue falso. Steve e os demais membros da banda ficaram fascinados quando duas garotas desmaiaram ao ver a cena durante um show em Margate.

Steve Harris: “Den não era um cantor tão tecnicamente bom quanto Paul, mas ele tinha carisma e um lado divertido. Eu tenho que admitir, eu achava que ele parecia meio que criança quando ele costumava aparecer com aquele coração vermelho pintado sobre um olho – igualzinho ao Paul Stanley saído do Kiss, você sabe. Dave talvez usasse um pouquinho de lápis no olho também, algumas vezes – quando ele estava bêbado sua garota punha isso nele antes dele subir no palco. Mas eu enchia o saco dele por isso!

“Mas com o Dennis era uma maquiagem de um jeito diferente. Pelo menos ele tinha uma persona de palco, o que era uma evolução em relação ao Paul. E não importava a maneira que você encarasse o visual do cara, ele pelo menos se atirava de cabeça naquilo. E isso era importante. Eu queria tocar naqueles bares e botecos que tocávamos como se estivéssemos no palco do Hammersmith Odeon ou coisa assim. E Den era muito bom nisso.”

Mas com a chegada de Dennis veio junto a notícia sobre um guitarrista colega de Den, que segundo ele, podia detonar com tudo. Seu nome era Dave Murray. Steve: “Eu disse, ‘Bem, se ele é tão bom assim, traz ele aqui!’ E ele veio. E foi aí que tudo mudou...”

Hoje em dia pode parecer estranho, ou irônico, mas Steve tinha mesmo a idéia de ter três guitarristas ainda nos anos 70! “Eu sabia que poucas bandas tinham tido três guitarras, como o Lynyrd Skynyrd, que tinham feito algo realmente bom com elas.” explicou Steve em 1998 “E, em princípio, eu pensei que seria legal tentar algo similar. Dave e Terry eram bons na dupla de guitarras e eu pensei que se o cara que Den está trazendo fosse realmente tão bom quanto ele falava, ele bem que poderia arrebentar em cima dessas bases. Mas, do jeito que as coisas foram, isso não era para acontecer.”

Dave Sullivan dá a sua versão: “Os solos estavam carecendo talvez da qualidade daquilo que o Steve e o Den procuravam naquela época, e houve algumas discussões a este respeito, sim. Em princípio, Steve só queria incluir um terceiro guitarrista. Eu não me importei muito, mas o Terry não estava gostando. Ele não achava que um terceiro guitarrista era necessário. Mas as pessoas levam a coisa pelo lado pessoal algumas vezes, como se isso fosse um desprezo pelo sua habilidade. E esse foi o jeito que Terry entendeu. Mas eu era bastante aberto a isso naquela época. Dave Murray já estava rondando por ali, eu acho. Eu não estava lá quando ele fez a audição. Eu acho que fez a audição só com o Steve e o Den (mais o Ron).”

Steve Harris: Eu queria o Dave Murray na banda. Eu sempre achei que ele era um grande guitarrista e que ele podia tocar melhor do que qualquer um que eu conhecia. Então pensei: ‘Bem, foda-se, sabe, Lynyrd Skynyrd tem três guitarristas, por que não nós?’ Eu não tinha problema em ter os três lá, mas os outros não estavam nessa, eles não estavam numas de ter outro guitarrista. Eu não sei se isso foi porque eles tinham uma combinação e pensavam que não estava dando certo ou coisa assim – e não estava dando certo, eles apenas não eram solistas particularmente bons. Era só isso, realmente. Eu apenas disse: ‘Bem, se vocês não aceitarem alguém entrar para a banda, então vocês terão que sair.’ Porque então eu já tinha me decidido que era aquilo que eu queria.”

Dave Sullivan se recorda bem desta época: “Foi um pouco antes do natal de 1976. Nós tínhamos tocado no Walthamstow Assembly Hall, e foi a primeira vez que tivemos um poster promocional para uma apresentação. Foi o primeiríssimo poster do Iron Maiden, que o Steve desenhou pessoalmente. Eu ainda tenho um. Mas eu e o Terry tínhamos saído pouco depois disso. Nós tivemos uma reunião num pub e Steve mais ou menos disse isso: ‘Nós vamos separar a banda e dar um descanso.’ Eu não estou certo se foi mencionado sobre Dave Murray se juntar a nós. Eu acho que havia algumas coisas que as pessoas não estavam contentes e as discussões ficaram um tanto obscuras naquele momento. Tinham sido ditas algumas coisas sobre economizar dinheiro para comprarmos um PA melhor e meio que passamos por cima da coisa toda. Nós estávamos chateados sobre isso, sim, mas eles estavam muito determinados. Eles disseram algo como, por enquanto nós vamos dissolver a banda e talvez trabalhar algo mais tarde. Mas eu acho que o Dave já estava rondando por ali.”

Steve Harris admite que foi mais do que simples técnica que determinou as primeiras baixas nos guitarristas do Maiden: “Havia algumas coisas a respeito deles (Rance e Sullivan) na época. Não era só como tocavam. Algumas vezes eles não estavam muito convictos sobre seus compromissos com a banda, como fazer certos shows e coisas assim, porque ambos tinham bons empregos durante o dia, eu acho, e ambos estavam um pouco preocupados com isso. Eu não estava interessado nisso. Eu estava numas tipo ‘Fodam-se os empregos! Eu não estou nem aí sobre o quão bem você está fazendo o seu trabalho, a banda tem que estar em primeiro lugar!’ Eu disse isso a todos eles, qualquer um que entrasse na banda. Essa tem que ser a atitude. Era meio assim: ‘Eu não me importo se o seu irmão ou irmã estão se casando, ou o que for, se tivermos um show naquela noite, nós faremos o show.’ Esta sempre foi a minha posição: O Maiden vem primeiro.”

Sullivan diz que foi somente “uns seis meses depois” que ele e Terry descobriram que o Maiden estava de volta à ativa – com Dave Murray na guitarra. “Eu tinha falado com o Ron (Rebel) e ele me disse que eles estavam levando a banda adiante. Mas eu não fiquei muito aborrecido naquelas alturas. Eu me lembro de estar tentando comprar um apartamento, porque eu estava indo me casar na época e eu tinha um monte de outras coisas mais importantes na minha cabeça.”

Naturalmente houve muito arrependimento mais tarde, como o próprio Dave Sullivan admite, quando viu o nome do Iron Maiden crescer assusta-doramente pelo mundo todo. Embora ele tenha uma visão bastante filosófica sobre o que aconteceu: “Claro, eu acho que eu sempre vou ter arrependimento de não ter sido parte de tudo aquilo, porque estávamos lá bem no princípio.” Confessa ele mais de vinte anos depois “Mas eu não saberia dizer se eu estaria lá agora. Porque eu acho que simplesmente não era para ser. Boa sorte para eles, eu digo. Eu sou um designer autônomo para companhias de petróleo agora. Mas ainda estou em contato com o Terry, nós ainda escrevemos juntos e fazemos algumas coisinhas aqui e ali. Mas apenas por divertimento, sabe. Muito diferente do Maiden. Steve sempre foi tão sério sobre aquilo tudo, desde o princípio.”

Steve levaria seu sonho adiante contra todas as adversidades que encontraria no caminho – e que não seriam poucas. Mas nunca deixou de ser objetivo e dedicado. Quem acreditou e o acompanhou sabe disso. Milhões de fãs no mundo todo diriam em coro: Amém!